Apenas um beijo!

Beijar, como é bom! Beijo de amizade, daqueles que ao tocar o nosso rosto transmitem a sensação de não estarmos sozinhos. Beijo de pai, que para chegar até o ato, muitas vezes teve que vencer a tradição de que homem tem que ser duro, não pode amolecer. Beijo de Mãe, esse é um dos melhores. Têm mães que beijam muito, beijinhos, beijocas até sufocam. Outras não têm nem tempo para tanto. Mas aquele beijo carregado de carinho maternal, um amor lá do fundo; acontece em algum momento e nós sentimos a diferença. Beijo entre irmãos, não são tão comuns como deveriam, pois, a fraternidade vai se perdendo na disputa de atenção. Esse beijo sela um breve instante de trégua, no qual irmãos dividem igualmente um belo sentimento. Beijo de filhos, os verdadeiros só iremos sentir quando nós pais nos colocarmos na posição de receptores em vez de doadores. Os pais gastam muito tempo pensando no que podem dar aos filhos de orientação, alimentação, estudo, tempo, atenção de mais ou de menos, disciplina, liberdade, incentivo, freio; sem deixar que eles também nos dêem o que podem. Ainda bem que eles sendo melhores que nós, sabem nos pegar exatamente quando estamos distraidos pensando nos problemas de gente grande e... vem aquele beijo que faz nosso coração se encher de novo.

E o beijo inocente, que não espera nada em troca, nem tem a intenção de abalar as estruturas, é apenas a vontade de beijar. Simplesmente espontâneo. Já o beijo malicioso sabe esperar a hora certa em que pode acontecer. Dá até aquele frio na espinha, que desperta o desejo que estava guardado, adormecido. Beijo longo, beijo curto, beijo de agradecimento, beijo de desculpa, beijo que saúda, beijo de despedida esse é preciso saber usar; dar a ele a qualidade que merece. Um beijo revela intenções, intenções dos sentimentos e esses sentimentos adentram ao ser despertando o que tem de melhor ou pior. O beijo reflete o nosso estado emocional, mostra através de sua textura e forma o que deseja. Amor, traição, carinho e também repulsa. Através dele deveríamos criar proximidade entre os seres, pessoas, permitir que o nosso tesouro íntimo toque beneficamente os outros.

Não se vê mais aquele beijo de novela, que não acontece na primeira oportunidade, pois tem tempo para conhecer, envolver, apreciar, criar expectativas. Beijos de cinema ainda podem ser vistos, tem hora para começar e acabar, seu prazo de validade é o momento em que está vivendo. Mas, o mais comum de todos é o beijo de comercial, ele é instantâneo, dura 30 segundos apenas, velocidade máxima, música curta, movimentos rápidos e intensos logo passa para a próxima propaganda.

Como nós usamos o beijo nos dirá como somos. Os lábios são o primeiro contato íntimo entre os corpos, por isso é tão importante. Quem não se lembra daquele filme que passou “pouquíssimas vezes” na sessão da tarde, “Uma linda mulher”. Uma fábula de Cinderela moderna, em que a mocinha não trabalha em casa de família por um teto e comida. Mas negocia o tempo e cachê de acordo com o teto em que vive e a comida que consome. Realidade ou fábula, toda mulher aceita ser a gata borralheira sonhando ser Cinderela. É quando Julia Roberts, a protagonista do filme, beija o mocinho na boca revelando que foi conquistada. Ela agora espera a transformação do mocinho em herói no cavalo branco que fará dela a Cinderela de seu conto de fadas.

Se soubéssemos o quão introspectivo pode ser um beijo, provavelmente não o distribuiríamos nem ao atacado nem a varejo. Faríamos dele peças únicas, inestimáveis para quem o recebe. E por que não? Não se trata de um jogo onde a conquista é mais fácil ou difícil. É questão de significado, de entrega valiosa, só e somente só por confiar nos sentimentos uns dos outros. As pazes se selam com um beijo, assim como a união de marido e mulher. Os três beijinhos são a confirmação de que quando homens e mulheres assim se cumprimentam estão aceitando dividir sua intimidade. Baixar a guarda, permitir uma troca de sentimentos e muito mais.

Se soubéssemos usar com autenticidade nossos gestos, não estaríamos tão confusos quanto aos nossos sentimentos.

Um beijo não é apenas um beijo!