Ainda jovem em minha terra e no bairro que morei havia um vizinho que  recebia diariamente os cuidados de uma família,de alguns poucos amigos também e vivia precariamente.Era esse vizinho totalmente paraplégico de nascença. Dependência,em tudo.  Seus ossos atrofiados.  Era carregado –diariamente- até a calçada- pelos seus- para se distrair e ver o movimento de pessoas,gentes e carros, na calçada da  rua,diante da casa,até o sol se por.Essa era a vida do infeliz.Nada mais.Tudo sem grandes emoções.
Esse era seu único lazer.Dependência total de tudo e de todos.
Um dia aparentou estar doente,parecia até grave e uma comitiva - família e vizinhos,todos acompanharam o infeliz até o médico para ver o que acontecia.Seus olhos perdiam gradualmente o  brilho e uma preocupação tomou conta dos circunstantes.O vizinho como não andava foi levado então de carro pelos amigos até um consultório médico, com alguns familiares.
Depois de horas de consulta, a sós,o médico chamou o responsável da família e receitou um remédio inesperado,inusitado ao paciente: sexo.                                                                        Um único remédio .Nada mais.
Agora,como um homem daquele totalmente atrofiado de nascença conseguiria tal proeza?
Fazer sexo com quem? Se nem de pé ficava e nem se levantava da paupérrima espreguiçadeira de lona já  bem estragada,esgarçada pelo permanente   uso diário ?
Quem e qual a mulher que se motivasse(sujeitasse) a ter alguma relação sexual com um homem totalmente atrofiado pela impiedosa natureza e infeliz destino?
Um problemão.Missão quase impossível.
Um dos nossos teve a idéia então de visitar a zona do meretrício da cidade e tentar o impossível: um convite incomum para esse desgraçado,desvalido e  infeliz,que necessitava atender uma determinação médica.Necessitando de um remédio sexual...(!?)
Depois de negociações e tratativas longas na zona do meretrício, uma das mulheres aceitou o desafio...aplacar o desejo do  infeliz.Piedosamente.O preço? Nenhum.Embora o programa ou missão fossem inusitados para a desprendida e desapegada puta.Generosidade!Desprendimento!
 Na época não existia,nem se imaginava a palavra motel e jamais em “casa de família”ou dentro de casa- nem pensar,tal sandice pois esse encontro sexual somente era,no fundo, uma fornicação, “contra a moral e os bons costumes”... A solução foi levar  de carro emprestado,numa estratégia extravagante,  o casal improvisado atrás de um cafezal,fora da cidade,levando-se uma lona como cama,no chão bruto.Terra mesmo.Tudo a céu aberto.Para o dito e feito.
Tudo resolvido e lá se preparou o plano de emergência  da necessária profilaxia médica para aquele que jamais tivera uma mulher- em sua vida- a sua frente,em condições de se realizar sexualmente.Seria a primeira vez...Assim foi,com aquela emoção.
Os amigos ficaram de longe  e mesmo assim  ouviam-se ruídos,gemidos. A sonoridade de tudo e a turbulência de um primeiro encontro tresloucado,por certo jamais esquecido,entre pés de cafés floridos.Os pássaros –ante o inusitado- também se agitaram,denunciando uma invasão territorial...
Depois de horas, o ato e o fato  sem que o sol mudasse sua trajetória,tudo se acalmou e se quietou,naquele momento especial de amor e sexo.
Logo após,a   benemérita puta  apareceu solerte,íntegra e voltou ao seu  mister,com naturalidade...como se nada tivesse ocorrido,com um largo sorriso e encanto.Por outro,o rosto do paraplégico já era outro-triunfante- ao ser levado para casa....
Voltou a sorrir.
Assim,o paciente- conforme determinou o doutor- foi suficientemente  “medicado” e o brilho voltou- em definitivo- também aos seus olhos, já cheios de vida.
Estava,pois,curado.
A gente comentou: essa puta um dia vai para o paraíso...
Abanei também a cabeça e falei:Vai,com certeza!!!

 
helion verri
Enviado por helion verri em 28/01/2015
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