Desilusão

Sentada no sofá, em frente a TV, mudando freneticamente de canal, eu procurava com isso acalmar os pensamentos que borbulhavam em mim mente como uma represa prestes a transbordar. Minha mente vagava pelas imagens de momentos tão tristes que faziam lágrimas saltarem de meus olhos doloridos. E eu que achava que não restavam mais lágrimas depois de dois meses de muito choro e sofrimento.

É, faz dois meses que Caio me dissera palavras rudes e duras, me expulsara da sua vida como se eu fosse um objeto sem valor e eu não pude nem argumentar em minha defesa. Mas agora tudo fazia sentido...

Até ontem quando eu revivia as cenas daquela tarde de outono, eu não conseguia entender o que havia acontecido com nitidez. Lembrava-me de suas acusações, de minhas súplicas que ele parasse, seu adeus sem olhar para mim.

Difícil acreditar que um amor cultivado durante três anos acabara daquela forma. Como esse amor que ele me jurara ser eterno terminara assim, sem um motivo aparente? Como um relacionamento que começara por insistência dele, que tentara de todas as formas me conquistar, acabou? Me deixando assim, destruída, magoada, confusa...

Talvez eu tenha me iludido. O homem que eu achei que seria o grande amor da minha vida, tornara-se a maior decepção. Ai, meu Deus, como pude ser tão tola? E eu ainda tentara uma reconciliação, apesar de seu distanciamento, de sua frieza. Eu ainda pedi perdão por qualquer coisa que o tenha magoado e disposta a mudar - mas pedir perdão pelo quê? Se eu nem sei o que de fato ocorreu que deixou furioso e o fez me abandonar. Afinal, o que ocorrera naquela tarde que desmanchou o felizes para sempre?

O único fato em incomum daquele dia foi o encontro inesperado com Rômulo, meu ex-namorado que voltara de viagem e eu nem sabia. Esbarramos na saída da biblioteca, pois eu fui buscar alguns livros para me ajudar no trabalho da pós. Com muita educação e inúmeros pedidos de desculpas, ele me ajudara a recolher tudo, a carregar a pilha de materiais até o meu carro e se despediu convidando-me para tomar um café, qualquer dia desses.

Rômulo e eu sempre fomos grandes amigos e nosso namoro durou apenas um ano e terminou numa boa, pois ele se mudou para fazer o curso preterido. Um namoro rápido de final de adolescência. Que eu nem me lembrava mais.

Mas o que Caio deixara claro naquele nosso último encontro foi que ele não gostara nem um pouco desse "encontro casual " com meu ex. Ele falava aos berros e não me permitiu esclarecer o equívoco que ele estava cometendo. Eu fiquei completamente assustada com seu comportamento tão agressivo. E sua frieza ao me dizer adeus, sem nem me encarar.

Eu decidir dá a ele o tempo de que necessitava e foquei-me na conclusão de minha pós. Mas há duas semanas, eu soube algo que me fez perder o chão novamente. Ele estava namorando a menina nova, que era linda e rica, herdeira de um império. Os pais dela se mudaram a pouco tempo para cidade a fim de abrir uma filial de seus negócios aqui.

E agora tudo fazia sentido. Sua vontade de arrumar um emprego nessa filial, seu descaso com a nossa relação. Ele apenas queria uma desculpa para terminar o namoro e conquistar a sua escalada para o sucesso. Eu fui apenas um passatempo...

No entanto, o pior era que eu ainda o amava, apesar de toda mágoa. Ainda esperava que ele se arrependesse e voltasse correndo para mim, me jurando amor e fidelidade eterna... Mas que boba eu era! Como ainda podia alimentar tantas ilusões?

Mas um toque na porta do apartamento me fez sair um pouco daquela nostalgia e trouxeram-me de volta a realidade tão cinza. Relutante, sai do sofá, enxuguei as lágrimas, tentei parece um pouco menos abatida do que estava, e fui atender a porta.

O carteiro sorridente entregou-me um carta que, como pude notar, não tinha remetente, mas estava assim endereçada:

"A ela"

"(Alice Faria)"

Abri a carta e meus olhos mal acreditaram naquelas palavras. O que aquilo significava?

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 26/01/2015
Reeditado em 28/01/2015
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