Diálogo surpreendente a respeito da surpresa...

Em um dia chuvoso, uma garota que acabará de fazer 18 anos resolve fazer o teste para tirar a carteira de motorista e, ao entrar na sala da médica que aplicará o teste psicotécnico, se vê diante de uma situação inesperada, um diálogo um tanto surpreendente a respeito da ‘surpresa’:

- Boa tarde! Qual seu nome? – falou a médica.

- Boa tarde! Meu nome é Aponi. – respondeu a garota.

A médica sorri, diz que o nome é bem interessante e pergunta-lhe o significado.

- Aponi que dizer borboleta e é de origem Celta. – disse a garota.

A médica sorri novamente, mas resolve ir direto ao assunto e pergunta:

- Você já tem noção de como será a prova? – perguntou a médica.

- Na verdade não, já ouvi algumas pessoas comentando entre si como é, mas nunca ninguém sentou comigo pra me falar e também nem fiz questão ou me interessei em procurar saber como seria. – respondeu a garota.

- Mas por quê? Pra poder dizer que foi tudo por mérito próprio, sem a ajuda de ninguém? – perguntou a médica.

- Não. Prefiro descobrir tudo na hora do que já chegar aqui sabendo o que vai acontecer, não vejo graça alguma nisso. – respondeu a garota.

- Ah! Então é uma questão de surpresa?!? – perguntou a médica.

- Não digo que seja de surpresa, surpresa é algo mais do que isso e também, não me vem agora na memória nada que já tenha me surpreendido algum dia. – respondeu a garota.

- E porque você diz isso? Nada te surpreende? – perguntou a médica.

- É que surpresa depende muito do contexto, a meu ver. Por exemplo, quando alguém conta que estava andando pela rua e se surpreendeu porque viu fulano conversando numa boa com ciclano, sendo que ambos não se suportam e quando se encontram sai briga, isso não é surpresa para mim, apenas uma situação um tanto inesperada. Na verdade, é a mesma sensação de quando se está passando pelo corredor da casa e surge alguém que estava escondido para surpreendê-lo com um susto. Se for meu aniversário, por exemplo, e uns amigos saírem comigo e me levarem pra casa de outro amigo e ao chegar lá eu descobrir que é uma ‘festa surpresa’, não seria por acaso nenhuma surpresa para mim, de forma que seria algo tão clichê como a própria palavra que acabei de usar. – respondeu a garota.

- E o que seria algo surpreendente para você? Talvez se eu lhe dissesse que você foi reprovada no presente teste? – perguntou a médica

- Hahaha a surpresa para mim é algo quase transcendental, mas não posso lhe dar um exemplo, de forma que nunca experimentei tal experiência. E não, não seria surpreendente estar reprovada, talvez chegasse perto de sensação se eu tivesse entrado nessa sala, feito o teste completo sem dizer uma palavra ou omitido o que realmente penso sobre o determinado tema, um tema tão inesperado e surpreendente de se discorrer, a surpresa. De forma que desde que entrei aqui, não me calei um só segundo e fui completamente sincera em minhas palavras, mesmo sabendo que tais, são tão diferenciadas da opinião, digamos até, de todo o resto do mundo. Então assim, sei eu, que corro sim o risco da reprovação, já que as pessoas estão tão habituadas a coisas, situações e palavras comuns e singulares que ao se verem em situações estranhas que expressem algo diferenciado do que os de costume, não sabem como agir diante destas e acabam por se recolher e recusar o que se mostra diferente. – respondeu a garota.

Um profundo silêncio toma conta da sala por alguns segundos e os devidos testes passam a ser aplicados de fato, mas sem que ambas digam mais palavra alguma até o “Adeus” na hora da saída.