SOCORRAM ESSES POBRES BASTARDOS !

SOCORRAM ESSES POBRES BASTARDOS !

Me sentei no balcão do bar .

Depois da primeira garrafa notei esse sujeito me fitando com seus olhos pidões e roupas gastas . A sua frente um copo cheio de que não sei , mas ele dava uma bicada na sua bebida aqui e ali , como se quisesse fazer a coisa durar . Contando o cara do balcão , o sacana esfarrapado ao meu lado e eu , eramos três . O lugar não necessariamente fedia , estava mais para um cheiro estranho de meias sujas e roupas suadas . O sol começava a se deitar e sumir por de trás dos prédios . Pensei então que se , tivesse seguido os conselhos da mamãe eu poderia estar lá dentro somando e multiplicando com um punhado de papeis e um bom computados logo a frente do meu nariz ao invés de estar aqui , no bar , bebendo ao lado de gente que ninguém mais quer cheirando a chulé . Do meu ponto de vista , eu estava melhor que os desgraçados amontoados uns sobre os outros em quarenta andares de concreto dor e ódio numa constante vontade de saltar do último piso com uma arma na mão e atirar em algum infeliz na rua antes de se estabanar no chão .

- No que esta pensando? , finalmente perguntou o cidadão sentado ao lado no balcão

- Em como minha vida é boa , eu disse , terminando minha cerveja e começando outra .

O cara do bar abriu o freezer , enfiou a cabeça lá dentro e tomou um trago de uma garrafa que supus ser seu segredo . Quando se virou para nos e cruzou os braços fortes nos encarando , esperando outra pedida, já parecia bem mais satisfeito e cheio de si . Lá estava um homem de metro e noventa , careca e com características de presidiário , dono de um perdigueiro de esquina apanhando toda merda que parasse por la como uma curva de rio . O que posso dizer ? Ali , ele era o rei .

- Sabe , vejo esse povo reclamando nos jornais , na tevê e na fila do banco . Todos reclamando do dólar que nunca para de subir ou das drogas . Eu estou muito bem do jeito que estou . Nunca toquei num dólar e pelo que sei drogas são um mal necessário no controle populacional . Se eu fosse o presidente do pais botaria todos os viciados para recolherem lixo nas ruas e limpares os trilhos dos trens , em troca lhes daria sua cota diária de drogas e eles teriam uma ocupação e o restante do povo uma cidade limpa .

Pedi para o cara do balcão , o rei , descer uma cerveja para o cidadão . Ele avia ganhado meu respeito ou coisa parecida . A cerveja chegou e o cidadão me agradeceu com um sorriso sem dentes . Matou o que tinha no copo e o encheu com suco de cevada .

- Muito obrigado , meu chapa . Já não aguentava mais tomar água . Passei o dia todo trapaceando meu figado com água de torneira . Ele já estava quase caindo nessa .

As luzes da rua estavam se acendendo . Suas fotocélulas já não reconheciam mais os resquícios de luz que vinham de cima , e lá estávamos nós , prestes a iniciar outra noite de sexta , vivos e felizes por estarmos fora daqueles poleiros de loucura e concreto . Amém ...

23/01/2014

16h44m

'' Quem teme ser vencido tem certeza da derrota ''

Napoleão Bonaparte

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 23/01/2015
Código do texto: T5111823
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