Anjo Surreal
Olhando da rua avista-se aquele aglomerado todo sem cor e sem brilho. A exposição tem a finalidade moralista de alertar o fim de todos que é tão natural quanto nascer e viver. Mas lá está servindo de consolo social também: é o que iguala a todos reduzindo a um mesmo estado – pura expressão cultural.
Aquela estampa soturna contrasta com o céu azul anil de verão que parecia chamar a todos que ali dormem eternamente a um novo despertar. Sobre os leitos marmóreos ou de simples tijolos pintados imagens de santos – era a derradeira tentativa de distinção: mármore para uns e tijolos caiados para outros.
Entre os santos, anjos. Havia aquele craquelado, não por modismo infligindo antiguidade artificial, porém, pelas intempéries que denunciam a luta contra o perpétuo.
E aquilo causou impressão em forma de aviso: você irá sonhar.
Foi na noite quente, quando aparecem os fantasmas, o sono imperava e os sonhos rolavam soltos. Aquele Anjo Craquelado apareceu debaixo do virol: o vivo enroscava-se no lençol e a pedra angélica punha-se a desfazer o esconderijo – uma luta entre o angélico e Jacó. Colocava-se às costas tateando a coluna.
- Por que você apalpa todas as minhas vértebras? O que você quer de mim?
- Massageio a tua coluna procurando sinal proeminente na tua ossatura de asas arrancadas. Pois se eu encontrar resquícios das mesmas em tuas costas isto provará que deixarei de ser anjo pétreo e serei também humano.
A luta continuou até a conscientização do que estava encoberto no inconsciente. O Anjo parou de tatear e aquele que dormia acordou:
Toda forma bruta pode um dia ser pensante. Toda ruga humana adveio das intempéries do viver – a vida bem vivida transforma todos em anjo. E a pessoa crapulosa torna-se um Anjo Craquelado que tem sede de benevolência.
Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 20/01/2015.
Olhando da rua avista-se aquele aglomerado todo sem cor e sem brilho. A exposição tem a finalidade moralista de alertar o fim de todos que é tão natural quanto nascer e viver. Mas lá está servindo de consolo social também: é o que iguala a todos reduzindo a um mesmo estado – pura expressão cultural.
Aquela estampa soturna contrasta com o céu azul anil de verão que parecia chamar a todos que ali dormem eternamente a um novo despertar. Sobre os leitos marmóreos ou de simples tijolos pintados imagens de santos – era a derradeira tentativa de distinção: mármore para uns e tijolos caiados para outros.
Entre os santos, anjos. Havia aquele craquelado, não por modismo infligindo antiguidade artificial, porém, pelas intempéries que denunciam a luta contra o perpétuo.
E aquilo causou impressão em forma de aviso: você irá sonhar.
Foi na noite quente, quando aparecem os fantasmas, o sono imperava e os sonhos rolavam soltos. Aquele Anjo Craquelado apareceu debaixo do virol: o vivo enroscava-se no lençol e a pedra angélica punha-se a desfazer o esconderijo – uma luta entre o angélico e Jacó. Colocava-se às costas tateando a coluna.
- Por que você apalpa todas as minhas vértebras? O que você quer de mim?
- Massageio a tua coluna procurando sinal proeminente na tua ossatura de asas arrancadas. Pois se eu encontrar resquícios das mesmas em tuas costas isto provará que deixarei de ser anjo pétreo e serei também humano.
A luta continuou até a conscientização do que estava encoberto no inconsciente. O Anjo parou de tatear e aquele que dormia acordou:
Toda forma bruta pode um dia ser pensante. Toda ruga humana adveio das intempéries do viver – a vida bem vivida transforma todos em anjo. E a pessoa crapulosa torna-se um Anjo Craquelado que tem sede de benevolência.
Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 20/01/2015.