Mea culpa, Mea culpa, Mea maxima culpa ! (aqua)
Em viagem recente passei por diversos pontos do Rio Paraíba do Sul, a imagem triste revela a decadência de um outrora farto e vigoroso rio. Por muitos e muitos quilômetros de estrada refleti a respeito do assunto. Na adolescência já ouvia falar sobre água vir a custar mais que combustível, sobre escassez extrema, mas certamente era uma ideia tão longínqua e remota que jamais teve um fundamento educacional em tantos de minha geração. Brincadeiras regadas literalmente no frescor da mangueira de plástico, banhos relaxantes, carros lavados lenta e caprichadamente, luxos ou lazer que hoje são tão recriminados. Quanto colaborei para esta situação? Cumpri com louvor minha quota de desperdício!
Muitos hábitos são analisados e com algum esforço eliminados. Com outros, porém ainda me pego “pecando”. Estranho ir ao salão de cabelos lavados, ou aceitar o pouco fluxo de água na ducha pós-piscina ou academia. Hoje me espanto com a quantidade de água que uma máquina de lavar pode usar, mais que isso, me impressiono com o tanto que se pode fazer com a quantidade que ela descarta, e digo seguramente que agora economizando muita água, meu quintal nunca foi tão limpo. Que um banho de 3 minutos pode ser igualmente relaxante por não pesar na consciência. Que pouca quantidade de roupa é muito mais rapidamente lavada se usar as mãos. Não se pode dizer que não seja cansativo, mas quantos de nós precisamos nos preocupar em economizar calorias?
Criam-se medidas que estimulam a economia e outras que punem o desperdício, na mesma proporção em que surgem críticas diversas à atitudes ou inércias políticas. Penso que debater a situação é necessário e útil para que se encontrem novos meios, todavia, atitudes concretas e mudanças efetivas no comportamento da população e da indústria são prioritárias e imprescindíveis. Sentar-se sobre o erro e declamar conceitos sem lembrar-se de fechar a torneira, não vale muita coisa.
Hoje o que vem sendo feito sobre a recuperação de matas ciliares? Que pode acarretar a utilização de aquíferos? E os tantos bilhões que são investidos no tratamento de esgoto? E o estímulo para projetos de arquitetura que priorizem a captação e o reuso? Por falar nisso já parou para observar o quanto de água passa na canaleta que descarta o excesso do telhado ou na corredeira formada na guia do calçamento durante uma tempestade? Idéias são bem vindas, atitudes são necessárias. Todos tem responsabilidade, não basta reclamar, é preciso inteirar-se do assunto, cobrar e repudiar.
Pequenas atitudes ou grandes mudanças que provavelmente nos proporcionariam hoje um clima e ar de melhor qualidade. Mas o futuro espera para ser construído. Que o Paraíba do Sul entre tantos outros rios, reservatórios e represas aceitem minha postura de resignação e consciência. Que inúmeras outras posturas semelhantes possam juntas, também, mudar o triste e ressequido quadro hidrográfico que temos hoje.