O coro de anjos

Luís e Geraldo tem 8 anos a separá-los. E foi sempre assim, crê em mim. O que os uniu, contudo, foram o companheirismo, as viravoltas da vida e uma retidão sempre servida. Luís fez a vida toda na fábrica de tecidos e de rebentos, até se aposentar. E nada obstante, ou o bastante, continuou a trabalhar. E a orar no diuturno vigiar.

Geraldo ousou mais. E se firmou no cordão industrial da Belacap, conseguindo emprego bem remunerado, mas manteve a prole diminuta, sem arrefecer a luta.

Além de quase irmãos, tornaram-se compadres, e desfrutaram da solidez da amizade sempre que o tempo ou alguma outra circunstância os aproximava.

Até Geraldo enveredar-se por nova fé, originária da mesma raiz da de Luís, farinhas ambas de um mesmo sacro. Micro e macro. Diferenças só nos detalhes, a que cada fiel segue e persegue os entalhes.

Geraldo tornou-se protestante. Vibrante, de tamanho valor, qual um bom pastor. Luís foi que se manteve fiel à tradição, ao meio que o circundava no catolicismo que praticava, fé que cada vez mais se arraigava.

E foi numa dessa discussões de doutrina que Geraldo desconheceu o diferencial da mãe de Jesus, pra ele Maria, mãe carnal. Quando Luís asseverou que, na sua distinção, ela foi elevada aos céus por um coro de anjos, Geraldo objetou.

E o diálogo empacou. As viagens para lá de para cá, continuavam existindo, mas os encontros é que foram raleando. Cada um firme nas suas convicções e convecções. Com perdas e sem perdões. E de pensar que não custava nada àqueles guardiões terem alçado Maria

à suprema altura. Na cara do profeta Geraldo.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 19/01/2015
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