OS TRÊS SE FORAM...
O sanfoneiro se foi.
O gaiteiro e o contador de estórias também.
Os três me fascinavam.
Do sanfoneiro recordo o corpo todo se balançando ao som do instrumento que com tanta maestria tocava.
Do gaiteiro lembro-me que saíam uns sons tão doídos.
Minha melancolia aumentava e ele na boca a gaita esfregava com os olhos em meus olhos.
O contador era dos bons.
O melhor que conheci.
Suas orelhas de ébano não esqueci, e sua boca.
O movimento dos lábios.
Eu não conseguia desviar os olhos dele enquanto contava, e ele o fazia num tom de voz tão brando.
À sua volta, nós ficávamos como que encantados.
Os “causos” eram tão diversos.
Ele colocava tanta ênfase em cada frase e a expressão de seu rosto mudava de segundo a segundo. Vivenciava a estória contada com jeitos e trejeitos.
Aquilo me deixava totalmente encantada.
Meus olhos se arregalavam, coração batia acelerado, o cabelo ficava em pé. Todo meu corpo se arrepiava, principalmente nos “causos” de assombração.
Mas eu queria ouvir mais e mais.
Eles se foram.. mas ainda moram nas minhas lembranças.
É tão bom recordá-los! Fechar os olhos e trazê-los de volta...
É tão bom ter de novo dez, onze anos e vê-los em minha vida enfeitando-a toda...