O VAI E VEM DO ÓCULOS DE GRAU

Quando ele a conheceu, se entenderam sem problema, pois ele passou a ser o preferido, apesar dela ter outros, tão parecidos, mas, com ele, ela se identificou. Aquela armação preta, grossa, de estilo antigo, estreito, no entanto confortável. Quando ela o experimentou pela primeira vez no rosto, achou perfeito. Sentiu até que tinha ficado mais intelectual.

E foi assim, que passaram a conviver, para onde ela ia, o levava pendurado na roupa, e quando ia ler, rapidamente recorria a ele. Os outros, passaram a ser só os outros, era dele que ela gostava, com ele ela se sentia poderosa, e enxergava bem.

Óculos de leitura, porém, carrega um problema: geralmente, fica pendurado na roupa, porque não precisamos usar o tempo todo. Somente para ler, e quando as letras são menores.

Então, ele sempre caia, porque quando ela se mexia, ele não estava bem preso à roupa, e estatelava demais. A sorte, é que ele não quebrava nunca, e isso a deixava feliz, pois cada queda, era um susto que ela tomava. Quando ela menos esperava, só escutava o barulho dele batendo no chão.

Às vezes ela o guardava na bolsa para não perder, mas, logo precisava dele, e ficava aquele tira e bota, que se tornava exaustivo. Sendo assim, ela sempre acabava optando por tê-lo junto ao corpo, perto do coração, o problema era só o escorregão do mesmo, quando ela fazia algum movimento, e TIBUMF, no chão.

Um dia foram para um barzinho, ela o utilizava toda vez que precisava olhar o cardápio, e também para ver a conta, e fazer os cálculos. Mas, quando chegou em casa, lembrou: Será que eu o peguei? Cadê ele? Será que ficou em cima da mesa do bar? Mas, não o localizou, e pensou em voltar no bar outro dia, e procurar nos achados e perdidos do local.

No outro dia, porém, “voilá!!”, ele estava no banco do carro. Que sorte, que maravilha, ela já estava até sentindo saudades dele. De como ele se encaixava tão perfeitamente ao seu rosto, e a fazia ficar com uma ótima visão para ler.

Dias depois, ela foi com ele ao supermercado, e pega uma coisa, e pega outra, ele escorregava, ela pegava, e colocava novamente pendurado na blusa, e assim ia. No final, quando ela finalmente foi pagar o supermercado, notou que ele tinha sumido novamente.

E agora???? Logo no supermercado? Encontrar como? Ela ainda rodou por algumas prateleiras pelas quais tinha passado, e nada. Que chato, agora finalmente, eles iriam se separar. Na certa, tinha caído em uma das vezes que ela se curvou, e talvez tivesse até debaixo de um dos tantos armários de prateleira dentro do supermercado. Realmente, sem chances. E foi embora chateada.

Quando ela chegou em casa, pegou outros óculos, e lembrou daquele que tanto ela gostava. Lembrou dos bons momentos que passaram juntos, e como ele era confortável de usar. E ficou um pouco chateada. Chegou até pensar em voltar ao supermercado para saber se não teriam encontrado.

No dia seguinte, ela foi abrir o saco de bananas, e qual não foi a surpresa dela, quando se deparou com ele novamente dentro do saco. Ela riu, e ficou feliz. E entendeu, que apesar dela sempre perde-lo, parece que ele gostava de viver ao lado dela. E assim, os dois continuaram felizes. Mas, dessa vez ela pensou: Agora vou arranjar uma cordinha para óculos, assim, o penduro no pescoço, e não o perco mais.

Noélia Alves Nobre
Enviado por Noélia Alves Nobre em 19/01/2015
Reeditado em 10/09/2017
Código do texto: T5106765
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