Eu não consigo escrever sobre amor
Hoje eu cansei de escrever pra ele e decidi escrever pra mim.
Quero me aconselhar a chorar mais um pouco na frente do espelho, porque meu reflexo não vai contar pra ninguém que eu ainda sinto falta e sei que podia ter agido de outra forma. Eu sei, nós sabemos: doeu ter que limpar as lágrimas e ligar o carro aquela noite, sem ter para onde ir. Doeu mais ainda ter ido até lá sabendo que eu ia ter que dizer que não dá mais e que idealizei ele desde o início. (Por que eu só consigo escrever quando não quero estar no meu corpo? Eu queria poder escrever sobre uma noite de amor maravilhosa que passei com alguém totalmente novo, mas não novo de idade - novo de alma, de coração. Novo do tipo que ainda não teve a terrível oportunidade de passar noites dentro de um boteco porque a partida de alguém doeu demais e voltar pra casa só ia trazer as lembranças à tona. Ver o sol nascer e no dia seguinte acordar com um "bom dia, amor" e um texto lindo na cabeça ia ser muito bom pra mim. Mas quem é que decide quando a inspiração vem?
Talvez eu ainda não tenha encontrado aquele que vai me dar vontade de surpreender com essas palavras revigorantes que eu leio de alguns escritores apaixonados por aí. Por enquanto eu escrevo sobre o que não teve chance de dar certo e sobre o que perdeu essa chance. Eu preciso tirar de mim um pedaço por dia dos que me machucaram pra alma conseguir respirar melhor: então, escrevo. E quero me obrigar a continuar escrevendo; não me importo se eles não leem. Eu leio.)
O triste é admitir pra mim que posso ter viajado por meses e posso ter comprado uma dezena de roupas novas e maquiagens e sapatos e conhecido pessoas... Nada disso mudou o fato de que ver ele me torce por dentro. Torce tipo pano quando tá molhado, sabe? Mas no caso meus órgãos são o pano. Normalmente eu ligo uma música legal e diferente, que nunca ouvi quando ele estava perto, mas se era pra isso ajudar, devo estar fazendo da maneira errada.
Para, tá? Para porque ele sempre deixou bem claro que sou igual qualquer uma. Não que tenha sido em palavras, mas as atitudes não enganam e eu já sou bem grandinha pra querer brincar com brinquedo antigo que eu sei que vai me cortar. Não escrevo isso pra eles, nem pra vocês, escrevo pra mim porque eu sei que se ele chamar, eu vou e isso é mais triste ainda. Espero pelo dia do meu coração entender que tem tanta gente, mas tanta gente mesmo no mundo querendo um espacinho nele - e eu não deixo entrar porque tá lotado de tudo sobre ele. Pode até ser que alguma dessas pessoas toque minha alma de uma maneira jamais feita e eu consiga, quem sabe, escrever sobre algum sentimento recíproco pelo menos uma vez.