A Faxineira de Freud
Sabe essas conversas meio malucas que temos as vezes, tentando encontrar respostas que justifiquem atitudes que nós não compreendemos? Não há padrões suficientes, nem literatura completa, muito menos, pesquisas com resultados absolutos que possam enquadrar todos os comportamentos do ser humano. Psicólogos, psiquiatras, neurologistas ainda que dedicados a estudar a mente humana sob vários ângulos, não conseguem com exatidão determinar as causas e efeitos para todos os nossos desequilíbrios. Minha avó já dizia que “coração é terra que ninguém pisa”. Mesmo que as razões estejam na mente, as conseqüências nas atitudes; a causa certamente estará nos sentimentos que cada um conserva dentro de si mesmo.
Com isso não quero dizer que os profissionais não são capazes de nos ajudar, pelo contrário, os estudos já realizados abrem canais que nos possibilitam identificar algumas dessas causas e o tratamento adequado. Mas a solução continua lá, dentro do coração, é falta de amor. Ou mesmo o excesso! É preciso conhecer nossas relações amorosas, com pessoas consideradas essenciais, com os bens materiais e até em relação nós mesmos. Vaidade, descuido, preocupação ou alienação. Cada um tem uma maneira própria de lidar com esse sublime sentimento, que não sabemos como sentir. Na verdade não sabemos o que é amor, nem como amar. Então desenvolvemos linhas de raciocínio que satisfaçam nossa ânsia de preencher essa lacuna.
Tudo na nossa vida gira entorno dessa busca. Será que no amor e na guerra vale tudo? Os fins sempre justificam os meios? Qual teoria se encaixa a mim ou a você? Todos carregamos segredos obscuros que não queremos desenterrar. Mas se esse segredo ficou sem solução, em algum momento vamos precisar desenterrá-lo para seguir em frente. Não existe segurança ao caminhar em teto de vidro, assim como não podemos nos lançar ao desconhecido sem correr riscos. E quando percebemos que estamos deixando para traz mortos e feridos, um rastro de mágoa a nos acompanhar, é hora de buscar ajuda. Seja ela religiosa, profissional, medicamentosa, terapia ocupacional, o que for necessário para que façamos o caminho de volta a essência dócil e amorosa que deveria prevalecer em nosso ser.
AMOR não mata, ele salva! AMOR não fere, ele cura! Então como aceitar crimes passionais, matar por amor, usar a carência do outro para saciar a nossa. Como um sentimento contaminado por uma segunda intenção “não muito nobre”, pode fazer bem a esse outro? Seria melhor se questionar antes concretizar. Saber as verdadeiras razões pois, a partir do momento que nossos desejos se expressam articuladamente, tudo toma forma, criamos um registro mental, que será consultado sempre ao tomarmos decisões.
Ser impulsivo não é a mesma coisa que ser espontâneo. O impulso vem do nosso instinto, acontece sem medir conseqüências. Já aa espontaneidade, é dar-se como se é, sem a preocupação de agradar sempre, sem medo de mostra-se abertamente. Mas nós não sabemos quem somos, nem confiamos em ninguém, nem em nós mesmos. É simples, pergunte-se o que você faria se um amigo achasse um bilhete de loteria na rua e desprendidamente o entrega a você para conferir o resultado. Se soubesse que ele precisa muito de dinheiro e o bilhete deu um prêmio de R$ 30,00. Caridosos como somos damos tudo a ele! Contudo, se ele fosse muito bem de vida e o prêmio fosse de R$ 500.000,00...O que você faria? Você ainda acredita ser uma pessoa controlada e de confiança? Vejamos outra situação crítica. Qual seria seu veredicto em um caso de estupro de uma prostituta? Concordaria com a pena de morte para o agressor? E se a vítima fosse sua irmã, sobrinha ou filha!? A pena de morte seria executada por quem?
Incrível como as pessoas justificam a morte por amar demais. Pior, deixam que um morra porque amamos só o outro. Até o momento em que o julguemos merecedor, quando julgarmos que não merece mais, receberá por nossas mãos a pena de morte. Mas se há alguém que nos ama apesar dos nossos erros, creio que os outros também devem ter alguém que os amem nas mesmas condições. Ou seja, o juízo que fazemos não afetará somente a eles mas também à aqueles que os amam.
Estranho como buscamos o amor sem saber como amar. Mas sabemos exatamente como merecemos ser amados. Todos esperamos que o amor nos aconteça, só não queremos esperar. David Runcorn, disse certa vez que “... a espera intensifica o desejo. Na realidade, ela nos ajuda a reconhecer quais são nossos verdadeiros anseios”. Preferimos nos enganar enquanto pudermos, fingindo não ver que aquele segredo começa a emergir e não permitirá adiar a resposta novamente. É nessa hora que a máscara cai, o impulso nos domina e fugimos pela tangente alegando não ter tido a intenção! Não imaginava que acabaria assim! Só descobrimos agora!
Dizem que, de médico e louco todos temos um pouco. Com certeza não sou médica nem louca. Bom; louca; não tenho tanta certeza assim! Só posso falar daquilo que já vivi. Que pessoa "normal" assim como eu, teria conversas malucas sobre o amor, psicologia, mentes e corações, com alguém que não conhece? Sem ao menos ser doutora no assunto? Talvez, eu tenha sido a faxineira de Freud em outra encarnação, aquela que passava mais tempo fuçando a papelada dele, fazendo de conta que limpava! Quem sabe? E você? Se julga uma pessoa normal? Sim ou não? Se respondeu a essa pergunta silenciosamente, creio que deve fazer uma terapia porque está dialogando com um pedaço de papel. Agora, se respondeu em voz alta... seu caso é grave!