VIDA NUM MORRO DO RIO

É diferente do asfalto, porque lá no morro tem umas mordomias, mesmo nos morros que não tem o domínio do tráfico, água e luz não se paga, a vista é sempre bonita, mas pára por aí, subir escadas infinitas com esse sol de verão do Rio é coisa que muito marombado de academia não encara.

O calor nas pequenas casas mal ventiladas é insuportável, crianças correm nuas pra cima e para baixo das escadas, é tudo que elas podem fazer pois não há área de lazer. Isso quando não pegam pedaços de madeira e fingem que são bandidos, eles só gostam dos bandidos, ninguém quer ser policia nessas brincadeiras, os animais também gostam de correr com as crianças, gatos, cachorro e até porcos, é uma coisa desordenada nas escadas da comunidade, ninguém mais diz favela, tem também aquelas pessoas que vivem de subir material de construção, elas usam sacos de farinha de trigo, aqueles bem grandes, sobem com pedras, areia, ferro, e o que é pior cimento, esses trabalham feito jumento.

Nas calçadas têm também aquelas senhoras que para amenizar o calor ficam a fofocar a vida de quem vive a passar.

Nas esquinas e nas lages tem uns jovens meio perdidos que se dividem entre usar drogas e o álcool, vira e mexe morre um sem nem aos trinta chegar, mas todos cheios de filhos.

Tem gente que nasce e morre por lá, mas vou te contar vida no morro não tem poesia, por mais que se fale que é legal, ninguém vai me dizer que esgoto a céu aberto na sua porta pode ser bom. Bom seria que ninguém precisasse no morro morar.

Glória Cris
Enviado por Glória Cris em 17/01/2015
Reeditado em 17/01/2015
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