Socorro médico
Francisco Venâncio era professor. De ciências e biologia. Professor dos bons. Já se passara uma década que se formara em medicina e abraçara o magistério. Fizera-se médico para alegrar os pais, que acabaram por compreender o desvio de caminho. Na faculdade, fora bom aluno, mas não se encantou pelas curas. Levou para as salas de aula o conhecimento adquirido e a didática do professor nato. Até se esquecia de que era médico. Jamais clinicara. Jamais passara remédios, sequer em família. A caixa de giz era o instrumento de trabalho. O laboratório, as experiências moldavam a vida daquele já pai de família, que vivia feliz com os ganhos do ensino. A maioria dos alunos e colegas de escola sabiam do professor médico. Nas aulas, entretanto, Francisco Venâncio se limitava a ensinar, sem ficar fazendo referências a passado acadêmico. Aderira àquela profissão. Tinha respeito por ela e era respeitado no seu ofício. Tudo muito gratificante. Estimava a formação recebida, mas evitava referências, que poderiam até parecer pedantes. Feito esse preâmbulo – certamente maior do que o que se pretende mesmo contar –, flagramos nosso personagem em final de uma aula. Dado o sinal, o mestre caminhava com um colega, pelo enorme corredor da escola confessional em que passava quase todos os seus dias. Todos caminham para o período de recreio. Muitos, muitos jovens enchiam o corredor. O caminho era a sala dos professores. De repente, o imprevisto. Aos pés do médico, uma jovem tem um mal súbito e cai desmaiada. Ato contínuo, o professor – para um certo alívio dos circunstantes – abaixa-se, apalpa o pulso da moça e explode em um grito assustador: - Gente!!! Chamem um médico...