EU SOU A GRAMÁTICA.

EU SOU A GRAMÁTICA.

Crônica

Por Honorato Ribeiro.

“Eu nasci há dez mil anos atrás”... Poucos gostam de mim e muitos me assassinam por não saberem a importância que tenho na comunicação. Mas eu tenho amigos que fazem questão de me usarem e assim eu vou vivendo e sendo preservada. Sabem quem são os meus amigos? São os escritores da ACADEMIA DE LETRAS. Pois é, eu me orgulho e sinto privilegiada, quando aquele baiano disse essa profecia: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. (Ruy Barbosa).

Quando eu vejo alguém escrever este profetismo do Ruy Barbosa, eu fico orgulhosa por ele, o baiano, saber usar-me tão eruditamente. Ele gostava de falar uma linguagem colocando-me fora dos apedeutas e eles a olharem uns para os outros e se emudecerem. Veja o que ele disse: “Pouco se me dá que a onagra claudique, o que me apetece é cicatá-la”. Mas há, na maioria, não gosta dessa linguagem literária. Sabe por quê? Vou contar-lhe o porquê: Eu exijo que o verbo seja colocado no seu tempo, modo e tudo que ele é: Verbo que complica os que não gostam de ler, de escrever, de aprender e de flexionar ou conjugar, principalmente, quando têm que usar o subjuntivo presente, futuro e pretérito imperfeito. É difícil usar bem como eu, dona gramática exige. Vejo muitos letrados escreverem: “Eu só acredito nesta sua história, quando eu ver”. Mas não é para a gente ficar indignada com um agravante deste? Coitado do verbo ver! E me assassinam. Quando, porém, é preciso usar um vocativo, meu Deus, acuda-me o que é isso! Vírgula? Ponto e vírgula? Dois pontos que ora começa com letra maiúscula, ora com letra minúscula! E os verbos em próclise, ênclise e mesóclise? Sabem usar-me? E o discurso direto e indireto, quando vão escrever! E como saber escrever palavras com figuras de estilo ou de linguagem: hipérbole, metáfora, prosopopeia, metonímia, parábola, etc, nesta hora, é que eu sinto os cravos rasgarem minhas mãos como os soldados fizeram com Cristo. É, minha gente, eu sofro muito e ainda sou criticada pelos apedeutas de diploma e colarinhos brancos a sentarem e afirmarem: Sou um parlamentar! E eu que me cuido de colocar nas minhas costas sal grosso como mezinha para pensar as minhas feridas. E ao escrever a etimologia da palavra que muitas delas vêm do grego e do latim? Dia desse eu vi alguém escrever essa palavra em um jornal: “Há muita gente superticiosa.” E outro escreveu: “Aonde você está”? Coisa tão simples de escrever e falar, mas não me usam e me fere e o que fazer! Lamento dizer que: o responsável para fazer uma reforma de ensino, uma modificação cultural, nesse País, ainda terá que nascer outro Ruy Barbosa. “O projeto do Senador Cristovam Buarque é ótimo, mas não depende dele e sim dos parlamentares.” Seria maravilho eu ressuscitar e ser respeitada! Por enquanto vou sofrendo como “o pão que o diabo amassou”, ou talvez me quisesse bem os que sonham com uma boa educação. Por que os jovens, na maioria, tiram zero na redação, quando submetem ao ENEM? Eles são culpados? Creio que não. Onde eles estudaram não me viram nem de longe! Aqueles que os ensinam, educaram, engavetaram-me e me usaram entre quatro paredes. Quando lhes soltaram (os alunos) dos seus cárceres, (a sala da escola) viram o mundo diferente, de linguagem diferente, de comunicação diferente, de roupagem diferente. Quando me viram, (eu, a gramática) naquele gabarito de alternativas subjetivas, olharam nervosos, assustados, mas não me viram, pois os que os enclausuraram, me esconderam, ou por não souberam usar-me, ou por, talvez não me amassem e tampouco a profissão como verdadeiros sacerdotes. Eu sou culpada? Eu vim para ser servida e usada com sabor daqueles que me deu à luz prenhe de sabedoria, pois, “eu nasci, há dez mil anos atrás. E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais”, ou de mais que todos neste país, porque eu sou a Gramática. Tenho plena certeza que existe muita gente que me ama e quer que eu seja usada, falada, escrita por todos os estudantes desse colossal País: “Gigante pela própria natureza”. Que está “deitado eternamente em berço esplêndido” querendo levantar o “lábaro que ostentas estrelado”, mas sem mim?! Duvido que este sonho se realize. Eu sou imortal, mas não morri, ainda que “entre outras mil, és tu, Brasil,” que deveria ser amado pelos que por nós foram delegados aos poderes constituídos para me defenderem. Quiçá eu voltarei a ser amada pelos jovens brasileiros, que são o futuro deste imenso Brasil; e por eles, (os parlamentares) para fazerem a reforma da educação em todo o país, para não ser mais do “sete a um”, mas somente ele (o Brasil) tem um “Rei”, tricordiano.

Um forte abraço de sua amiga que muito lhe ama: Dona Gramática.

hagaribeiro.

Zé de Patrício
Enviado por Zé de Patrício em 16/01/2015
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