Medo de Altura
Pois é, acho que minha ideia de fazer crônicas mais voltadas à primeira pessoa não foi lá uma grande ideia... mas enfim, eu continuo pensando que o título de última foi o que mais afastou os leitores -- ou talvez o tamanho. Voltando para a de hoje, outro dia tive de sair com minha família por motivos quais eu não quero e obviamente não vou contar -- basta saber que saí em família e foi para ajudar.
Então, tivemos de ir numa praia aqui de Salvador aonde tem um forte belíssimo. Se não me falha a memória -- caso falhe, é porque o relato é mesmo um pouco de sonho, um pouco de realidade -- o nome do forte é Monte Serrá, e a praia fica logo próxima da região do centro da cidade de Salvador. Chama-se a praia aonde dorme o forte, de Boa Viagem -- pensando agora no assunto do nome da praia, muito provavelmente porque lá devia ou ficar um porto, ou muitas pessoas que por acaso estavam nessa praia, partiram desta para uma melhor.
Mas voltando ao assunto, resolvemos em vez de ir à praia, a subir o tal do forte que fica numa especie de morro. Lembra um pouco aquelas fortificações feitas pelos portuguese -- porque é provável que seja mesmo -- como se fosse um grande castelo pintado de branco incrustado em cima do morro, com um canhão do exército apontado para o mar. Embaixo da fortificação é aonde exatamente temos o quebra-mar, com ainda algumas pedras enormes e um constante vai-e-vém das ondas que jazém lá, brilhando no encantar colorido provindo do sol, juntamente com suas espumas que ora crescem quando se encontram com as pedras. Devo dizer que para qualquer pessoa que observe o ir e vir das ondas quais se encontram com as rochas, alguns metros abaixo do forte, na subida do morro, deve achar que o lugar, que a paisagem é lindíssima. Na verdade, tirando a altura que ora bolas, eu tenho medo (e medo nenhum de admitir) também considero que mesmo olhando para baixo, a natureza é belíssima.
Então resolvi da a volta ao forte. Por que... porque sim. Simplesmente por que eu nunca havia dado a volta nele, atravessando de lado a lado, na realidade fazendo um círculo completo ao ser redor. Enquanto me empreendi nessa jornada de aventura e descobrimento, devo dizer que havia muitas pessoas lá nesse dia -- para meu azar muitos casais... sei lá, olhar a felicidade alheia não é algo tão feliz -- admirando não o quebra-mar mas simplesmente o sol que estava se preparando para se pôr. Então cheio de coragem, dando a volta no morro, aproximando-me às costas do forte pintado de branco, vi algumas arvores que insistiam em crescer por sobre a terra inclinada, pessoas que sentadas no batente conversavam e finalmente a volta que ele dava por sobre o monte.
A visão era linda, reconfortante, mesmo que eu não quisesse completar a última parte do trajeto, aonde o chão parecia ter menos de um metro e meio. Mas enquanto cheio de coragem eu ia tateando as paredes brancas da construção, sem me dar o luxo de olhar para baixo, enquanto simplesmente vinha para dar à volta para finalmente ver como ele termina e mais, como ele começa, eu olhei a direita. À direita, enquanto as pernas continuavam em pé e a respiração forte pelo simples não-prazer de querer olhar para o quebra-mar, entre o medo e o prazer, olhei para direita. E o sol, como um circulo perfeito, num céu sem nuvens por sobre um azul límpido, tendo embaixo as pessoas que felizes estavam em família ou com seus enamorados, eu por aquele instante, fitei-o e sorri, como que agradecendo a mínima coragem que tive de dar a volta no forte. Mas o segredo ou a grande sensação em si não foi a minha, ou a minha vontade de ver esse pouco que ainda não conhecia, mas simplesmente porque o sol estava lá, num tom amarelado, vermelho-claro, a pouca distância de tocar o seu berço por sobre o mar, o horizonte infinito. Nesse inteirím do coração em frisson pelo medo de saber que a pouca distância estava a beleza das pedras e seu quebra-mar, o sol acima de nossas cabeças estava lá, a pouco tempo de dizer o adeus perene do dia de hoje, por sobre um forte antigo pintado de branco, casais, famílias e sob meus olhos que somente por uma ou duas vezes, encararam frente à frente a sua beleza, que exatamente por nada cobrar e apesar de ser somente àquele dia, permanece.
Sorri por ter tido a audácia de não olhar para baixo. Sorri porque me chamaram para continuar andando e terminar o circulo em volta do forte. Fiquei sério porque tinha mais coisas a fazer. Mas ao mesmo tempo fiquei tranquilo porque por mais uma, ter tido a coragem de pisar aonde os pés tremiam e de olhar para cima, aonde o sol não passa.