Quasepoema/ Maisquepoema

Visitar a mostra "Quasepoema - Cartas e Outras Escrituras Drummondianas" é um privilégio e uma honra. Mesmo que seja ousadia, eu chamaria "Maisquepoema" a coleção de fatos e afetos que abre as portas do coração de Drummond e de sua casa, de sua doce herança itabirana, e o reconduz à cidade que tem lugar predestinado em sua obra, para nos oferecer prendas diversas, na condição humana de filho, pai, irmão, conterrâneo. Ele mesmo diz que se iludiu ao pensar que saiu de sua terra, pois sabe que carregou consigo as coisas que emolduraram sua vida e que fizeram dele um vivente enganado, enganoso, sempre com fome de primitivo alimento. "Ser itabirano é um destino".

O dia torna-se pequeno para a fruição de tudo o que está à disposição do leitor, como leitura de poemas por expoentes da cultura, fotos que mostram os laços familiares, a sala com dispositivos sonoros para escuta de poemas declamados por ele próprio, a projeção da correspondência em mesas de madeira antiga e, mais do que tudo isso, as cartas enviadas à mãe e familiares na doce viagem "na família". São textos que desconcertam o leitor por desvendarem a sublimação de sua rica condição humana, mas o confortam espiritual e moralmente no contato íntimo com a família real do homem de elevados princípios embalados por forte e singela afeição aos pais, irmãos e, por extensão, à própria família e à grande família itabirana.

"Se de tudo fica um pouco", vale ressaltar que, em Carlos Drummond de Andrade, o que permanece é a simplicidade que lhe é peculiar e que é a forma mais valente, vigorosa e audaciosa de sua expressão, em prosa ou em verso, de anseios comuns, de amor, de valores permanentes. Ninguém sai da exposição sem reverenciar o homem-poeta que tem raiz e nela se apoia, nela se agarra, "porque tudo é consequência de um certo nascer ali".

Lindita
Enviado por Lindita em 15/01/2015
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