MEDO DOS SONHOS
O que seria um sonho? A ciência explica que os sonhos são experiências da imaginação, manifestação inconsciente de todo indivíduo durante o período do bom e maravilhoso sono. Dizem ainda, que os sonhos são aditivos emocionais guardados na mente, e, ao dormir, projetamos imagens e sons. E como dizia a famigerada Dercy Gonçalves “a melhor coisa que existe é dormir”. Ao realizar este ato tão singelo e aprazível, permitimo-nos mergulhar num mundo onde tudo é possível – desfrutável quimera.
Para Freud, os sonhos noturnos são originados na tentativa de realizar um desejo reprimido, ou, impossível de se concretizar neste mundo. Portanto, os sonhos fazem parte de um outro universo, o inconsciente, o mundo das ideias. Para inúmeras tradições culturais e religiosas, o sonho possui poderes, entre eles o da premonição. Minha avó, cheia de crendices e incutida nas tradições de seus antepassados, sempre interpretava os sonhos que tinha durante a noite. Acho que herdei este costume, embora, às vezes não queira admitir e, por mais que tente me afastar, sempre tenho medo dos sonhos ruins.
Na Grécia antiga, a deusa Mnemosine (memória) permitia aos poetas voltarem dos sonhos com a reminiscência do que haviam vivido naquele mundo, por isso, a recordação – re- “novamente”, “de volta”/ cordis- “coração” (aquilo que vem do coração) – fazia transbordar do íntimo dos poetas a magnificência de tocar as pessoas com palavras de sabedoria e arte.
Outro dia, encontrei, ao acaso, um amigo que não via há anos. Coincidentemente ele jurou ter sonhado comigo naquela tarde. Relatou que o sonho parecia tão real que desde aquele instante, ao sair de sua casa, ele olhava para todos os lados com a esperança de rever-me. No dia seguinte, uma amiga da faculdade (que também não vejo há muito tempo), disse-me pelo whatsApp que na referida tarde, do dia anterior, também havia sonhado que reencontrava-me. Confesso que fiquei assustada com a coincidência. Mas preferi pensar que não é nenhuma das premonições que minha avó fazia. E ao conversar com estes dois amigos, confortei-os dizendo que a saudade fizera-os sonhar comigo. E confortei a mim mesma, pensando no que dizia Machado de Assis: “É melhor, muito melhor, contentar-se com a realidade; se ela não é tão brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir.”.