NEM TODO COLONO É O QUE PARECE
Pela passarela da rodoviária de Porto Alegre lá vinha Antenor com seu caminhar dez para as duas, calças de brim, redondas, sem nenhum friso, bainhas dobradas davam-lhe o alcance das canelas, sapatos de amarrar, desengraxados, perdendo a tinta, mas limpos, os pés sem meias, sem carpins, chapéu de palha, camisa de fazenda estampada, abotoada até o pescoço, cinta preta e larga, bolso estufado pelo maço de dinheiro, na mão uma sacola preta com a marmita e era tudo que precisava para ser chamado de colono, só faltou a enxada no ombro.
Logo depois no meio dos transeuntes vinham dois ou três batedores de carteira, nós nas extremidades da passarela, deixávamos como caminho de fuga somente o saltar lá de cima.
Mal a mão penetrava no bolso gordo do colono pagávamos o pé do batedor e jogávamos para cima e assim nem bem ele caia no chão a algema já estava num dos braços tombo sincronizado com o dos outros dois comparsas.
Um dia na delegacia:
- Isto é flagrante preparado e é ilegal, nem dinheiro havia para ser furtado, como posso autuar alguém por furtar pedaços de jornal? - sei lá, até papel de pão, sendo seria furto, não importa, pois assim eles sumiam da passarela.