A Bruxa

Não era pra coisa virar o que virou. Quem diria que uma bobagenzinha daquela ia dar o pepino que deu?  Pois, tudo começou durante a aula de Ciências do Professor Jair: a mariposa saiu, de repente, por detrás de um armário, traçando voos rasantes sobre a cabeça dos alunos.

Bagunça armada! Turma quando quer aproveitar qualquer motivo pra tumultuar ninguém queira saber como consegue! E que motivo melhor teria o 6º Ano para fazer alvoroço, que aquela bruxa enorme, dando trombadas nas paredes, voejando a esmo pela sala? Mas, a coisa piorou muito quando a Vânia gritou:

— Nossa senhora! Minha avó falou que essas bruxas soltam um pozinho da asa. E o pó faz a gente ficar cega!

Trinta e sete alunos numa sala pequena para o número! A ameaça voadora solta daquele jeito!  Imagine o furor. Pânico generalizado! Ah, com certeza, àquelas alturas dos acontecimentos, o lepidóptero de tétricas asas negras e antenas filiformes tinha já disseminado uma epidemia de cegueira. Certeza absoluta! Estavam todos perdidos! E agora?

Professor Jair, todo enrolado pra dar conta da situação. Era capaz de apostar que, não demorava, a Direção ia aparecer pra checar o motivo da confusão. Sorte que ele tinha um sininho debaixo da mesa para essas ocasiões. Afinal, suas cordas vocais, depois de mais de vinte anos de Magistério, já estavam detonadas, e ele jamais se faria ouvir em meio a tamanho burburinho.

Providencial, o sininho! A coisa tinha saído do controle. As meninas davam gritinhos histéricos, buscando abrigo debaixo das carteiras. Os meninos, bem que tentavam uma postura mais heróica, mas estava na cara que também temiam pelos seus lindos olhos fadados à eterna escuridão. Professor Jair tocou energicamente o sininho. Um silêncio repentino se fez, e ele optou pela calma:

— Pra que isso, gente? É só um inseto inofensivo! Esses bichinhos são atraídos pela claridade. É só apagar a luz da sala, ela vai pra lâmpada do corredor. Querem ver?

Luz da sala pagada, não deu outra: num minutinho lá estava a temida e horripilante bruxa esvoaçando ao redor da lâmpada do corredor. Ufa! Um alívio coletivo tomou conta da classe. E é claro que o mestre aproveitou o tema tão instigante para enriquecer seu conteúdo. Quem seria louco de perder a chance? E dessa vez, salve! Que interesse da turma! Coisa rara, tanta concentração...  Mas, eis que de repente, um grito estridente se fez ouvir lá do fundo da sala:
 
— Apaga a luz! A bruxa voltou!

Pois bem, a luz teria sido apagada e nada demais teria acontecido se naquele exato momento a diretora da escola — popularmente conhecida por Bruxa, justamente por suas medidas impopulares — não tivesse adentrado abruptamente à sala...
 
 

(Dedicado a todo professor que já viveu algo parecido. E devem ser muitos rsrs)