Vidas Hollywoodianas
Vidas Hollywoodianas
Todas as histórias são desinteressantes e nada têm de relevante; passam a ser importantes quando se dá nova interpretação e ornam momentos com a poesia fabricada com rimas pobres. Ergue-se o autor para sustentar a sua história.
A biografia é história vivida e contada e recontada, de uma maneira que o leitor busque viver o que foi e não foi vivido; sustenta-se a obra com o autor. O autor sempre esteve morto e morto está agora.
As histórias de vida são, simplesmente, vida vivida e nada de novo. O que se fez ou deixou de fazer, foi feito e não feito por tantos, por isso, a vida alheia é a vida também de muitos.
O autor do autor fabrica momentos, adorna suas sombras e poetiza suas negativas, mas, a verdade, se é que há verdade na história, tudo é ficcional e arrisco até a dizer Hollywoodiano.
Quantas lágrimas e sorrisos fabricados em uma vida comum a todos são inventadas? Quantos amores eternos são jurados para romantizar o indivíduo? A construção do ídolo responde ao jogo de interesse capital; o capital. É preciso fazer acreditar que houve dificuldade no trajeto, dessa maneira, valoriza-se mais a chegada. Moral cristã e piedosa. O vencedor deve ser, antes de tudo, um derrotado, um andrajo de humano, um roto, assim, a beleza será mais bela depois da conquista. Moral cristã, repito novamente.
A vida do outro deve ser sempre mais interessante que a nossa, pois o outro, ser intitulado vencedor, é o que se quer ser. Ser o quê? E quem realmente é? Mas, o autor do autor, aquele que conta o que foi contado e recontado, cronista de fatos - "todo fato é interpretativo" - constrói outra vida sobre a vida que já foi vivida. Há um novo acontecimento e a memória é reconstruída novamente. É necessário se fazer acreditar que a vida que não foi vivida por tantos, mas que foi vivida pelo autor e, agora, pelo autor do autor, seja vida desejada pelo leitor/espectador. Faz parte do processo criativo e da interpretação - o leitor é quem completa a obra -, ou melhor, quer viver a vida que não é sua, mas que já vive, apenas não tem um autor que escreva sobre o seu eu-autor.
Ele viveu a mil por hora; como se quem anda pé ante pé não chegasse a nenhum lugar. Ele fez do amor sua vida; como se o amor fosse privilégio de poucos. Ele sentiu as dores do mundo e conseguiu alcançar o êxito; como se ninguém sofresse as mazelas do mundo. Tudo que o autor do autor quer, é fazer uma nova história e compor um Best Seller da vida que já foi vivida, mas que precisa ser vivida novamente para se fazer vida para aqueles que julgam não ter vida.
Quando resolverem contar a minha vida, escrevam em letras garrafais e publiquem em mais de mil editoras a seguinte história homérica:
Nasceu para morrer!
penso que terá mais serventia para a vida de muitos, que uma história fabricada para vender vida.
Mário Paternostro