O DIA QUE NÃO TERMINOU
e souza
Em 2003, era radialista em uma emissora de rádio no litoral sul de São Paulo. Conduzia um programa sertanejo todas as manhãs, das cinco as oito e às dezessete horas, um ano e meio depois resolvi que criaria outro programa, um que fosse romântico, meu diretor Celso Lima, concordou imediatamente e criamos o programa (Onda Romântica 1). Pela manhã o sertanejo, à tarde a segunda edição e a noite o romântico. Três programas no dia ficou um pouco pesado, decidi ficar com a programação noturna. Fiquei um tempo até que outro assumisse, e para nossa felicidade apareceu o Fran, que se mostrou um tremendo amigo e profissional exemplar, conduziu o sertanejo com maestria absoluta e invejável. Tínhamos patrocinadores comuns e algumas vezes na semana nós visitávamos juntos, na maioria eram restaurantes, lanchonetes, lojas, etc. Na sexta feira fomos até um de nossos anunciantes, almoçamos batemos papo com a Lídia, proprietária do lugar, quando chegou a hora do Fran ir para a emissora, levantou-se da mesa e despediu-se da moça e se foi, antes, porém, eu disse a ele que tivesse cuidado para atravessar a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, já que ele sempre passava para o outro lado sem usar a passarela. “não vá morrer hoje meu amigo, quero ter um fim de semana legal, ok?” Ele me respondeu rindo “pode deixar, não vou estragar seu fim de semana não.” Fiquei na lanchonete até que o programa começou, o Fran mandou abraços e nos dedicou músicas, mas trinta minutos depois foi ao ar o primeiro bloco de comerciais, as músicas voltaram sem a vinheta do programa e o locutor não falava nada de uma música para outra, já que era protocolo dizer o horário a cada intervalo de músicas, e a programação seguiu sem a intervenção do locutor, bem, achei aquilo estranho, pois não era procedimento comum e resolvi ir para lá e saber o quê acontecia. Fui informado por nosso diretor que o Fran havia passado mal e foi para o hospital, e me pediu para que naquele horário eu fosse “o mesa”, isso quer dizer; colocar as músicas e blocos de comerciais sem dizer nada. Eu o fiz até a hora do meu programa e sem ter noticias do colega. Vinheta do programa e logo após a primeira música o telefone tocou no estúdio, era uma ligação da mulher do Fran, e me informou a morte do amigo às dezenove horas. Comuniquei nosso diretor que me pediu para não dar nenhuma notícia sobre no assunto até que ele voltasse do hospital, pois queria ter certeza absoluta da informação. Apresentei meu programa normalmente. Meia noite e meia o Celso chegou ao estúdio e me autorizou a dar a notícia do falecimento do Fran, algumas pessoas foram para o portão da rádio e eu as recebi. Encerrei meu programa naquela madrugada com a triste notícia; “O Onda Romântica de hoje é dedicado ao nosso grande amigo e profissional, Fran, do programa sertanejo...” Confesso que a minha vontade de continuar o programa na noite seguinte foi muito ruim. Trabalhei na rádio mais alguns meses e me demiti, não tinha mais graça ficar ali. O Celso entendeu e me deixou às portas abertas, mas nunca mais voltei. É isso aí.