CONVERSAS PRAIANAS

Sair no fim de samana pra conhecer novas paragens, é muito bom. Voce conhece pessoas em lugares onde ninguem te conhece. E foi assim: Sol, muito sol, mar, muito mar. De manhã cedinho, caminhar na areia, conversar com o mar, catar conchinhas.Um bom dia aqui, outro ali, um sorriso, e em instantes estou sentada á beira mar com uma desconhecida de meia idade, me falando de suas dores, seus traumas e seus preconceitos: Ouço apenas, afinal é isso que ela deseja; alguem que a ouça. Enquanto isso a observo: Talvez tenha sido uma jovem linda, talvez não, com certeza. Ainda lhe sobram traços delicados. voz calma, olhar penetrante, esperando quem sabe, minha opinião, que recuso em omitir.

Começamos falando da beleza do luar, da calma, da imensidão do mar, e as comparações se estenderam até às pessoas que frequentam lugares apelidados de "points", onde vemos através da mídia mulheres com seus corpos saradíssimos, modelados, malhados, e ela se mostra então uma mulher preocupada por demais com a opinião alheia, me mostrando, como se desculpando, suas estrias, já esbranquiçadas, povoando o colo, as ancas, e as coxas, partes essas, opulentas, sem curvas, nada retilíneas, maltratadas talvez pela falta e estrógeno, devido à idade. Enfim, a senhora ali, à minha frente, sentia-se menos, carregando sua auto-estima sob seus pés. Por instantes me mostrou seus defeitos, como suas varizes, a celulite que teimava em proliferar, os cabelos brancos insistentes, apesar das colorações. Tentei por vezes mudar de assunto, mas ela retornava entristecida ao mister de maltratar-se ainda mais. Cheguei a vê-la feia, acabada, triste. Mas, ela estava mesmo triste. Não se amava mais. Talvez ela ainda não tinha percebido que sua interlocutora, tambem estava acima, muito acima do peso ideal, que tambem colecionava estrias e celulites, e que tambem precisava a cada quinze dias esconder seus grisalhos. Acredito mesmo, que ela esqueceu-se de olhar ao redor, e perceber que a grande maioria,a maioria arrasadora das frequentadoras das areias escaldantes já não se importam tanto com a opinião alheia, nem almejam posar pra revista "Caras" e seus photoshops. Querem apenas, curtir o sol, o mar, e estar juntas às pessoas que ama. E num lampejo de sei-lá-o-quê, pedi que ela segurasse meu óculos pra que eu pudesse dar um mergulhinho reparador, daqueles com direito a caixote, e areia no maiô, além de muitas tentativas de ficar em pé. E ao retornar, encontrei minha triste desconhecida acabando-se de tanto rir, e caminhamos por um bom tempo pela orla, catando conchinhas e conversando com a dona do mar. Afinal somos sereia eperientes.