Osama Bin Laden é assim?
Este é um trecho interessantíssimo do livro "O livreiro de Cabul".
Este livro foi escrito por uma norueguesa que viveu 3 meses na casa de um livreiro afegão após a quedo do Talibã, e a partir da sua vivências reais, escreveu este livro.
No trecho abaixo, que, se fosse literatura, entraria na categoria "crônica" foi escrita baseada em fatos reais. Nela, um jornalista norte-americano (Bob) e um jovem afegão que trabalha como tradutor (Tajmir) chegam a um hotel na cidade de Khost no interior do Afeganistão, no ano de 2002, para descansar, após um longo dia de entrevistas com líderes guerrilheiros.
Nesta cidade, o governo central do Afeganistão praticamente não tinha poder, e dois grupos disputavam o controle da região após a queda do Talibã. Um dos grupos apoiava o governo central do então presidente Hamid Karzai, e o outro grupo era liderado pelo guerrilheiro Padsha Khan, que era contra o governo central, mas que, ironicamente, foi posto no controle da província após a queda do Talibã, pois tinha mais poder na região.
Ambos os grupos possuíam aliança com os Estados Unidos, pois os americanos apoiavam qualquer grupo que os ajudasse a encontrar Osama Bin Laden, que na época acreditavam estar escondido no Afeganistão.
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Aqui começa a transcrição do livro:
Tajmir e Bob se sentam num sofá no saguão do hotel. Acima deles, na parede, há um estranho cartaz. É um grande cartaz emoldurado de Nova York, com as duas torres do World Trade Center ainda de pé. Mas não é o horizonte real de Nova York, porque atrás dos prédios há montanhas enormes. Na parte de baixo foi colado um parque verde com flores vermelhas. Nova York parece uma cidadezinha de cubos, sob um maciço montanhoso.
O cartaz parece estar pendurado lá há muito tempo: está desbotado e um pouco ondulado. Provavelmente já estava ali antes de alguém sequer imaginar que ustamente aquela imagem, de maneira grotesca, estaria relacionada com o Afeganistão e a cidade empoeirada de Khost, dando ao país ainda mais daquilo que não estava precisando: mais bombas.
-Sabem que cidade é esta que está no quadro? - Bob pergunta aos soldados afegãos que estão no Hotel, com armas kalashnikovs nas mãos.
Os soldados não sabem. Na cidade de Khost, que fica a apenas 230 quilometros da capital Cabul, os soldados afegãos nunca viram nada além de casas de barro de no máximo dois andares. Dificilmente eles poderiam imaginar como seria uma cidade como Nova York.
-É Nova York - Bob explica. - América. Foram estes os edifícios que Osama Bin Laden mandou que os dois aviões atacassem.
Os soldados arregalam os olhos. Já ouviram falar daqueles dois edifícios. Eles apontam e gesticulam. Eram assim! E pensar que eles passavam todos os dias por aquela imagem sem saber!
Bob trouxe um de suas revistas e mostra fotos de um homem que qualquer americano sabe quem é.
-Sabem quem é este aqui? - ele pergunta. Eles abanam a cabeça negativamente.
-É Osama Bin Laden.
Os soldados afegãos arregalam os olhos de novo, arrancando-lhe a revista. Juntam-se em volta para ver.
Todos no saguão do hotel querem ver.
-É assim que ele é?
Estão fascinados tanto pelo homem quanto pela revista.
-Terrorista! - Eles dizem apontando para a imagem de Osama e dando gargalhadas.
Em Khost não há jornais nem revistas, e eles nunca viram fotos de Osama Bin Laden, o homem responsável pela presença dos americanos e de Tajmir e Bob em sua cidade.
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Pode-se encontrar este trecho na página 256.
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No livro "O Livreiro de Cabul" aprendi que em muitas partes do Afeganistão não havia televisão e nem mesmo energia elétrica na maioria das casas, isso até mesmo na capital. Mesmo o rico Livreiro de Cabul, que possuia 4 livrarias na capital do país vivia em um bairro onde só havia energia elétrica por 4 horas a cada dois dias. Não havia também água nos encanamentos na maior parte do dia. Também não havia NENHUM sistema bancário confiável no país após o fim do regime Talebã. Ou seja, o livreiro não tinha como abrir uma simples conta de poupança. Ele guardava seu dinheiro em um velho baú em sua casa.
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Resumindo: Após ler este livro, fico feliz de morar no Brasil, a sexta maior economia do mundo.