Sufocando a dor
Mirtes tinha apenas oito anos, e uma dor de dentes que parecia ser maior que ela. Sempre que ela comia alguma coisa e “batia” exatamente no dente sensível, ela estremecia... Urrava de dor!Compadecida, sua mãe, uma mulher simples queria acabar com a dor da filha, porém não tinham dinheiro para ir a um dentista. Naquela época, há uns 40 anos atrás, só os ricos podiam frequentar o dentista sem que estivesse sentindo dor e a dor no dente de Mirtes havia começado naquele dia. Então sua mãe foi à farmácia, os farmacêuticos antigamente eram verdadeiros médicos, conheciam praticamente tudo sobre doenças e sabiam quais os medicamentos adequados, eles liam as bulas, pois tinham tempo e eram dedicados a profissão e respeito pela saúde do outro. ”Seu” Irineu indicou Guaiacol, por ser barato e de fácil uso, mas o dente teria que ter um furo, pois tinha que umedecer um pedacinho de algodão no remédio e colocar dentro do buraquinho do dente, pois ele era um tipo de anestésico.
Mirtes ficou feliz. Com a ajuda da mãe, imediatamente colocou o remédio no dente e, mais tarde, já livre da dor, foi brincar. Como toda criança “arteira” e contadora de vantagens contou para uma amiguinha o que tinha feito no dente. A amiguinha, mesmo sem sentir dor em nenhum dente, quis saber como era. Mirtes, sorrateiramente, entrou e sua casa, pegou o vidrinho com o remédio e um pedaço de algodão e foi demonstrar para a amiguinha como a mãe havia feito.
Fez com que a amiguinha abrisse a boca, pegou um pedacinho de algodão e abriu o vidrinho de remédio. A amiga se virou para ver como era. Esbarrou na mão de Mirtes e entornou todo remédio no chão!Desesperada Mirtes nado pôde fazer. Pegou o vidro vazio e colocou no local de onde havia tirado.
À noite a dor voltou (as dores sempre voltam à noite). Mirtes pegou um pedaço de algodão colocou no dente sem remédio (pois não podia contar para sua mãe) e mordeu sufocando a dor.