MISTÉRIOS
Minha vida sempre foi marcada pelos mistérios que nos cercam, desde os físicos até os espirituais. Meu nome é Emília e já vivi o suficiente para perder o gosto pela vida e ansiar por encontrar as pessoas que sempre me cercaram do mais puro carinho e amor incondicional.
Olho para os lado e o que vejo: NADA! Mas sei que neste nada existe sempre alguém, que me ama, cuidando de mim. Às vezes eu vejo e em outras intuo, às vezes me falam. Mas eu quero estar ao lado deles, poder abraçá-los, senti-los junto a mim. Oh, ainda guardo fotos, cheiros e fortes lembranças. Há anos não há um só dia em que não me lembre deles. Vejo-os sempre em meus sonhos, o que me faz desejar dormir o tempo todo.
Vim de uma família que via, ouvia e pressentia o que os demais não acreditam porque não possuem esses dons. Mas eles existem sim.
Quando criança eu sempre sabia como era uma pessoa que eu iria conhecer; eu acordava com uma angústia no peito que me sufocava e, mais tarde, a má notícia chegava; eu era acordada por uma forte voz masculina quando estava correndo algum risco; eu sentia arrepios no lado direito do corpo e sabia que devia sair de onde eu estava para que nada de ruim me acontecesse.
Hoje eu vejo o mal e o bem, o que não presta e meus afetos realmente verdadeiros, que não mais habitam este mundo.
A minha vida estava despencando há anos, quando, no dia 22 de julho de 2008, eu caí no mais profundo poço escuro e sem fim. Ainda precisava de forças para concluir os cuidados com outra pessoa que me era cara. Me mantive de pé, mas já assessorada por um médico que entendia o que eu estava sentindo.
Quando minha missão acabou eu me vi diante de um túnel escuro, com a alma em pedaços, sem esperanças de ser novamente quem eu era. Eu havia mudado, para sempre! Rio enquanto a alma chora desesperadamente; faço o que tenho que fazer, mas ansiando terminar e ir para a cama. Ah, o sono .... a pequena morte que temos todos os dias.
Próximo à entrada do novo ano eu recebi uma visita inusitada, que chorava muito por sentir saudades de mim. Oh, Deus, eu implorei que ela me levasse para onde estava. Mas não podia, não é senhora do destino de ninguém. Veio para me ver, para aplacar a saudade. Saudade que eu também sinto, muito, muito, muito. Mas se a saudade dela era de mim, a minha saudade é de um tempo que não volta mais, é de um tempo pretérito onde os que me amavam estavam perto de mim. Agora eu me afastei do mundo ansiando por rever os que me foram caros. Enquanto isso vou vivendo cercada de mistérios, inexplicáveis e, para alguns, inacreditáveis: sonhos que se realizam, pesadelos que se concretizam, visões que se tornam realidade, seres que estão sempre ao meu redor e que se deixam vislumbrar por mim, cheiros que estão no ar e nem sempre sou eu quem capto. Sim, aqui todos vivem esses mistérios. A impressão que tenho é que estamos mais protegidos quando eles estão nos visitando. Há, no ar, a necessidade do incompreensível, mas verdadeiro.
E eu sigo meu caminho entre a dor profunda e os mistérios já desvendados, em parte, por nós mesmos e pelos que se fazem ouvir.
O que é a vida, senão um mistério repleto de dor, tristeza, saudade e notícias que atravessam o Véu de Ísis?
A vida ... ela nunca deixará de existir, mesmo que sejamos conduzidos no barco de Caronte. Ainda assim será vida, mas em outra dimensão.
Campos dos Goytacazes, 11 de janeiro de 2015 – 13:38 horas