Atrevida

Entrou sem pedir licença. Saia comum, sandália comum, mas a beleza espantava.

— Mas estão bebendo uísque com este tempo?

— Servida?

— Não tem um chablis?

— Claro que tem.

Em pouco tempo segurava sua taça, enquanto o dono da casa, de bermudas e sem camisa, servia o vinho branco famoso. Temperatura ideal, levemente gelado.

— Posso falar, ou o assunto entre vocês é sério?

— Fala, garota! Nada sério. Por enquanto.

— Ótimo. Como vocês perdem tempo, ou melhor, não sabem queimar uma figura sem insistência, e falando no nome toda hora, e o que é pior, colocando imagem.

— Não entendi.

— Calma, eu não terminei. É sobre esta mulher mentirosa. A chefe.

— Que tem ela?

— Tem que é exatamente isso o desejado. O antigo ‘falem mal, mas falem de mim’. Vocês repetem o mesmo assunto e a mesma imagem não sei quantas vezes. Ninguém mais está dando muita bola.

— E o que sugere, espertinha?

— Digo. Metam a bordoada para valer, sem dó nem piedade, mas não coloquem a imagem dela. O nome já não basta?

— Quem está com a palavra é você.

— Continuo. Desandem a cacetada nela. Cuidado com assuntos duvidosos, vão tirar o crédito. Nada de fotos. Um amigo deu a ideia. Ou imagem para ofender, ou para lastimar de verdade. Esta última dela é uma piada muito sem graça. “Pátria educadora.” E coloca como ministro da Educação um cara que quer ver a educação pelas costas. Quando era governador, foi claro: “professorado é sacerdócio. Quem quiser ganhar dinheiro, que procure escolas particulares.” Tem graça esta?

— Tem graça é você. Fez trinta anos ontem. Está mais bonita do que nunca.

— Então bota minha foto quando publicar alguma coisa sobre ela.

Deu um gole grande, colocou mais vinho na taça e não disse mais nada. Nem precisava.