CONVERSANDO
COM OS MEUS AMIGOS POETAS...
Crônica de Valdez Juval
Quando cheguei à taverna já encontrei Omar (Kháyyám) e Pablo (Neruda).
Bebo com eles uma taça de vinho.
Já que tem de ser vinho, prefiro tinto.
É da cor da vida.
De Omar relembramos as Rubayyat e de Neruda os seus poemas.
Ressurgem sonhos.
Será que ainda é tempo?
Vou me embriagar do momento presente.
Provoquei-os falando do amor e do ciúme. Mostrei para eles, sem me envergonhar, de um autor desconhecido, considerado "brega":
“Tenho ciúmes do vento que acaricia a tua face,
da veste que sente de perto o calor de teu corpo,
da rosa que afagas.”
Pablo parecia pensativo. Tinha um compromisso para o dia seguinte. Então lhe falei:
- “Por que pensar no amanhã
se ainda temos que viver hoje?
Para que se preocupar com o que será
se ainda não sabemos o que é?
O passado passa, mas fica.
Relembra-se, não se revive.
O passadista é um sofredor.”
- Omar arrematou:
“Procura ser feliz ainda hoje,
pois não sabes o que te reserva o dia de amanhã.
Toma uma urna cheia de vinho,
senta-te no clarão do luar e monologa:
"Talvez amanhã a lua me procure em vão“
- E continuou:
“Os dias passam rápidos como as águas do rio ou o vento do deserto. Dois há, em particular, que me são indiferentes: o que passou ontem, e o que virá amanhã.”
Pablo animou-se um pouco e disse que sua tristeza era amor. Pediu-me então para declamar a versão que fiz do seu POEMA 20.
- Orgulhosamente acedi o pedido:
“Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: A noite está estrelada...”
- Quando cheguei ao final “e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo”, a vibração foi de todos que estavam na taverna.
E eu que discordava de Omar e preferia chope, terminei embriagado, de vinho.
Também pudera!