Educação de pais
 
 
            Teatro lotado na zona sul do Rio de Janeiro. Antes de o espetáculo iniciar, uma voz no microfone apresenta a imensa lista de patrocinadores – aliás, vergonhoso que uma peça teatral precise de tantos patrocínios. Cada um deve contribuir com uma merreca e ainda achar que está incentivando a cultura no país. Pronto falei! – mas, depois da tal lista, a voz no microfone é categórica: desliguem seus aparelhos eletrônicos. Não são permitidas fotos nem filmagem do espetáculo sem autorização expressa.
            Uma menina de uns sete ou oito anos, sentada na mesma fileira que eu e meu filho, virou-se para o pai, que sim, continuava com o tablete ligado, e a mãe com seu celular super mega power luminoso e chamou a atenção dos dois.
          - Pai, mãe, desliguem!
          O pai ignorou. Aliás, ele começou a tirar fotos do palco – ainda vazio – naquele instante. E não parou mais durante todo o espetáculo.
          A mãe fingiu não ouvir e ainda tirou uma selfie horrorosa, provavelmente para postar no Facebook ou no Instagram como era uma pessoa culta, que incentivava a filha a ir ao teatro desde cedo.
          E a menina? Fez carinha de triste e voltou a olhar para o palco, o qual foi fotografado dezenas de vezes durante a apresentação, não apenas por seus pais, mas por vários outros “responsáveis” da plateia.
          Não pude deixar de registar a cena. Na mente, claro. E fiquei pensando nas milhares de vezes que os filhos tentam, em vão, educar seus pais até que a força esmagadora do (mau) exemplo deles faça-os desistir e começar a apenas imitá-los.
          Não pode com eles? Junte-se a eles! Não é verdade?
Solimar Silva
Enviado por Solimar Silva em 09/01/2015
Reeditado em 08/05/2020
Código do texto: T5096388
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