O PREÇO DE UMA CADEIRA - A DIGNIDADE HUMANA
Lá pelo ano 2000 papai apresentou dificuldades de equilíbrio e caiu muitos tombos, então fui procurar uma cadeira que fosse confortável e que tivesse proteções laterais. Não demorei muito e encontrei uma numa loja de móveis para escritório.
Alguns dias depois ele reclamou que os joelhos estavam doendo e então a cadeira precisaria ser um pouco mais alta. Todas as cadeiras que encontrei com ajuste era móveis, portanto punham-no em risco de novas quedas.
Veio a ideia:
- Quem sabe num brique eu encontrasse a cadeira?
Fui numa meia centena deles e não encontrei a cadeira, mas aprendi muita coisa, no final fiz um enjambre que resolveu o problema.
Andei pelos briques da Sebastião Leão, João Pessoa e pelos mais sofisticados disfarçados de antiquários localizados no final da Marechal Floriano, pela Bento Gonçalves e Restinga. Num dos antiquários foi mais uma aula de história do que tratativa comercial, pois não havia nada de cadeiras do dia a dia, o proprietário explicou-me o estilo de cada cadeira, o matéria usado no revestimento, idade aproximada, de que parte da cidade viera, quase todos móveis descartados por familiares depois da morte de algum ente querido, alguns deles com cicatrizes profundas um pouco camufladas pelo rejuvenescimento do verniz.
Desde o início da conversa ficou claro que dificilmente eu iria adquirir qualquer objeto, mas mesmo assim ele me deu uma estimativa de preço de alguns e foi logo dizendo que alguns estavam ali, mas não venderia, pois teria dificuldades de avaliar, dando como exemplo da lenda sobre a espada do Rei Arthur, que o preço foi a força espiritual e não a força bruta e enveredou à política, campo onde a dignidade humana vale um cargo, uma obra pública, uma omissão, um dobrar de espinha.
Em pouco tempo a távola terá uma cadeira livre e então espera-se que o preço não seja a dignidade, mas reconhecimento.