JE SUIS LA LIBERTÉ. CHARLIE HEBDO.

RESPEITO PELAS CONQUISTAS DO HOMEM.RESPEITO. PROCESSO CRÍTICO.

Algumas vezes o calar-se é manifestar-se com grandiloquência. O silêncio como manifestação da vontade não incorpora um paradoxo. Outras vezes o calar-se, quando impunha-se falar, é a encarnação de uma verdade externada com a qual não se perfila, mas aceita-se.

Os órgãos representativos da religião muçulmana na França nada disseram ou fizeram institucionalmente relativo à liberdade de expressão concretizada pelo tabloide Charlie Hebdo. Aceitaram como a mais legítima liberdade de expressão.(ACRESÇO QUE ESSES ÓRGÃOS FORAM AO JUDICIÁRIO FRANCÊS E NÃO LOGRARAM INIBIR OU CENSURAR ESSA LIBERDADE ARTÍSTICA DE EXPRESSÃO, QUE SERIA LEGÍTIMA, E EU NÃO SABIA DA INICIATIVA PROCEDIMENTAL, DISSE EM DECISÃO JUDICIAL A JUSTIÇA FRANCESA SER LEGÍTIMA A MANIFESTAÇÃO ARTÍSTICA). Venceu a liberdade que seria legítima como manifestada.

Lá estão também fortes ironias contra o cristianismo com a Virgem Maria vendo nascer de forma escandalosa o “Petit Jesus”, ou a charge do “Pai,Filho e Espírito Santo” em congresso sexual de fortes tintas, ou a exposição do Presidente da França onde de sua braguilha salta o pênis que o comandaria, afirmando: “mon President”. É a ironia que o cartunismo faz veicular.

Importa e interessa ao mundo educado, com formação que enriquece os valores maiores que ficam como suportes do intelecto, o processo crítico com respeito, e o respeito envolve aceitação também, compreensão, e o cartunismo é por origem irônico, sem que tanto induza total desrespeito, deboche.

Ninguém respeita para ser respeitado, o respeito é originário, etiológico, só assim, embrionariamente, é verdadeiro e torna-se respeitável o respeito. Se alguém respeita para obter retorno igual, o respeito de nada valeria, pois a todo movimento há movimento igual, maior, ou menor desencadeado. Entenda-se, estou respeitando para ser respeitado, porque vou ser respeitado, senão não respeitaria. É filosófico. Respeita-se por princípio, por agregação de civilidade, por costume e hábitos. Não respeito esperando respeito, respeito por ser educado, civilizado, distante da imensidão do fosso do desrespeito, não respeito esperando respeito, se assim resultasse, meu respeito não seria respeitável, mas um respeito que pede troco, treinado para obséquios, sequioso de relevâncias e homenagens, sem espontaneidade. Por si só já é um desrespeito em gênero.

Não é demais falar-se sobre o tenebroso episódio que traz revolta ao mundo do pensamento. Fosse um desrespeito as charges do Charlie Hebdo, que estão garantidas pela maior das conquistas humanas, liberdade de expressão artística, que tem seus padrões definidos em lei, em posição contrafeita, não existe maior desrespeito na sociedade que o desrespeito, a afronta e violência contra o maior bem humano, a vida. Tirar a vida de alguém para combater a liberdade, e operar tal sinistro de forma impulsionada pelo terror, escala o confronto do mal com o maior bem do homem, a vida.

É o bem maior garantido, vida, tutelado como raiz de seus corolários, e por isso sua violação tem as maiores penas ditadas pelas legislações, todas.

Existem três verdades no processo crítico, a dos críticos e a verdade absoluta. É essa que a ciência da lógica, no procedimento crítico, persegue, chega-se a ela pela divergência. E a discordância é presidida pelas liberdades. Deve ser sempre respeitosa a crítica independendo do que se vai obter no contraditório. Mas deve ser sadia, edificadora, aceitar a ironia é respeitar essa liberdade.

A opinião que se insere nessa dialética deve ser respeitosa por embrião. Cada um tem sua opinião, legítima desde que respeitosa, formando o grande rio da discussão social, onde as margens são habitadas por variado contraditório, escorado em formações multifacetadas, plurais. Elas levam ao grande estuário do concerto de vontades, e deságua no mar da verdade absoluta, e a verdade absoluta é a liberdade cujo excesso define a justiça.

Foi assim que a história apossou-se das grandes conquistas humanas como a liberdade de expressão, que não pode ser asfixiada. Estamos quando submissos a esse princípio, liberdade, eviscerando a escravidão formal, estruturando para fortificar esse direito ligado à alma, nascido do iluminismo, listando reiteradamente em genuflexo sempre os direitos fundamentais humanos, hoje inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, onde se insere o direito de serem respeitadas essas conquistas, emblemáticas conquistas do ser humano em sua personalidade.

Por isso disse um dos vitimados pelo terror que preferia morrer a ficar de joelhos. Não silenciou quando do primeiro ataque ao seu local de trabalho, devastado, empunhou com mais força as armas do pensamento, e se exacerbadas suas manifestações, dissesse a Justiça provocada por aqueles que se sentissem atingidos, e nenhum órgão representativo da religião muçulmana foi ao judiciário.

O desrespeito à vida não fará cessar o respeito à liberdade, muitos já morreram em seu nome.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 09/01/2015
Reeditado em 14/01/2015
Código do texto: T5095949
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