Mais um lucro
Afrânio Honório era o que – sem nenhum recurso retórico – chamamos de um homem rico. Rico industrial do ramo têxtil. Vida toda a serviço de ganhar dinheiro. Gabava-se disso. Gabava-se também de ter faro para o lucro e de não perder dinheiro, pouco que fosse. Necessário é dizer que, nas poucas vezes em que vivenciou reveses pecuniários, o homem se entristeceu deveras, mas soube dar a volta por cima e continuou buscando lucros. Aquele recém-cinquentário, vemo-lo – na ocasião ora descrita – em uma praia no Espírito Santo. Ele, a mulher e um dos cunhados. Honório saboreava as almejadas férias, embora estivesse a todo momento a falar ao telefone, a transmitir ordens. Naquele dia, o homem – vestindo calção de praia novo, calção dos mais módicos – exibia-se em braçadas e era incentivado na proeza pela esposa e pelo cunhado. Se bela não era a plástica, o empenho do gordo empresário era digno dos que não desistem. De repente, o inesperado. O nadador é surpreendido por traiçoeira onda, que lhe preserva a vida, mas leva-lhe a prótese da mandíbula. Ato contínuo, Afrânio Honório – em rápidas e poucas braçadas – recupera o bem e o encaixa à boca – tudo à vista do cunhado, que pôde observar-lhe o sorriso. O mesmo sorriso que o homem ostentava quando fazia um bom negócio. Afrânio Honório estava no lucro...