*Emoçoes*_ LEMBRANÇAS
Emoções
Lembranças
Ao deitar e recostar meus pensamentos, começa a hora de resgatar meu passado, em torrentes de emoções, de saudades, que me acometem todo dia. É o momento sagrado de rememorar, com detalhes, todo o acontecido ao passar dos meus anos vividos, das pessoas que os povoaram, dos acontecimentos que me envolveram e que tanto me marcaram.
Os filmes se desenrolam detalhadamente, os fatos se sucedem em minúncias, na busca incessante de melhor observação para melhor classificá-los e recordá-los. Como isso se torna empolgante, pois nos faz retroagirmos ao nosso passado e, assim sendo, tornar a vivê-lo. curtí-lo se for o caso ou abolirmos de nossas memórias, se tiverem sido diferentes!
Se paramos para raciocinar os detalhes, as vêzes levamos sustos imensos, pois a realidade atual diverge totalmente da de outrora, fazendo-nos culpar, perdoar ou ignorar atitudes tomadas na época. São os chamados momentos misteriosos em que nos envolveram o sentido da emoção, da maravilha que nos fez vibrar, tontas em torpor imenso.
Ao fazê-lo, sinto-me rejuvenecida, volto ao passado em caminhadas rápidas, tão velozes que até tropeço nos caminhos do enlevo, dos sonhos, das promessas do nunca esquecer, do nunca deixar estas lembranças voarem para outras direções, que não sejam àquelas que me propus relembrar.
Se não tivesse o dom de gostar, de recordar, de reviver meus detalhes, jamais seria a que sou agora. Sempre disse que tenho duas vidas, a que vivo nesse exato momento e a que, se emaranhando nas lacunas dos meus labirintos, se esparramam e me dão aquela alegria, aquela felicidade em tornar a vivê-la, agora já alicerçada, sacramentada em meus devaneios.
Lembrar é o resvalar das saudades. Elas estão sempre juntas, porque são indispensáveis e preciosas, cada uma com seus atributos distintos. Lembrança é o carro-chefe deste desfile que nos emociona tanto, pelas nuances que apresentam, trazendo no bojo dessas recordações, nossos mundos reservados e amados, tão nossos... Nas lembranças, com ou sem saudades, engatamos aquele desejo imenso de não desejarmos esquecê-las. Sejam as grandes, ou as mais singelas lembranças as que povoam nossa alma, dando lugar ao parar do tempo, para retroagirmos e as rememorarmos.
Lembraremos sempre nossa infância, nos seus folguedos, nos sonhos, nas estórias que a mamãe contava, daquilo que imaginávamos ser, pelo simples poder-criança inventado. Recordaremos dos colegas de escola, que galoparam ao nosso lado, dos estudos, das descobertas, das luzes de conhecimentos, que clareavam nossas mentes e que nos ajudavam a sermos adultos, passo a passo, neste caminhar de vida, de uma vida ainda mal começada e já tão, exaustivamente, planejada.
Recordações dos nossos amores, nas ansiedades dos encontros furtivos, dos primeiros vislumbres de entusiasmo, da vida folclórica, que ora descortinava ante nós. Lembranças dos mínimos detalhes de acontecimentos corriqueiros, do dia a dia que tivesse sido, ficaram gravados em escalas menores, mas ficaram, porque na nossa memória, nossos pensamentos nem sempre são regidos pela nossa vontade e sim por fatores que não conseguiremos descrever. São as chamadas coisas da vida, são as lembranças que nos atordoam, nos perseguem e nos completam nessas memórias.
Lembranças, por que não tê-las? Por que não sentirmos saudades? De pessoas, fatos, no desejo de as trazermos de volta ao convívio, que já se perdeu nas poeiras do tempo, das jornadas passadas, sentidas, desejadas e amadas. Beijos, carinhos, promessas, sonhos, castelos são motivos de grandes recordações, de um passado, que não passou, permanece vivo e ativo em nossos corações.
Não lembrar é o esquecer. É o buraco negro da nossa indiferença, da nossa insensibilidade, do nosso desinteresse nas coisas que nos envolveram e nos marcaram.
Vamos, nas lembranças que nos animam, puxar o carro-forte das alegrias, nas alegorias desse desfile monumental das nossas recordações, nas querências dos sonhares, dos amares, dos passares e dos retornares.
Maria Myriam Freire Peres
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Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 2005
http://myriamperes.blogspot.com/2007/06/lembranas.html