ESSES LADRÕES....

Texto escrito em 1982 premiado no Concurso Nacional de Contos/Crônicas em Paranavaí, no PR, em plena época da ditadura militar, quando tudo que era crítica contra o Governo Militar, não podia ser publicado e nem inscrito em concurso a nível nacional.

Esse texto passou porque desenvolvi a técnica de escrever falando de um assunto para criticar outra coisa: no caso, os elevados impostos cobrados no Brasil, mas continua atual!

Comentários no link http://carloscostajornalismo.blogspot.com.br/2015/01/esses-ladroes-escrito-em-1982.html

Certa vez, um ladrão decide entrar na loja de um comerciante e anunciar:

-E um assalto, gritando e puxando um revólver 38 da cintura e empurrando-o na cara de um homem que tranquilamente, ao cair da tarde, encerrava o expediente da loja, contando o dinheiro.

- Calma amigo! Todo ladrão que entra em minha loja sempre traz um documento de identificação...carteira do órgão tal, ou órgão tal... O ladrão, já meio nervoso, responde

- Que outro documento de identidade o senhor quer de mim, além desse meu revólver apontado para sua cabeça.

- Ah, nem tinha notado esse detalhe...Mas o senhor pertence a qual sindicato ou associação...?

Irritado, o ladrão fez menção que atiraria.

-Calma moço. Calma! O assalto não está se dando da forma correta!

- Como não? – perguntou o ladrão, ao comerciante que estava sendo assaltado.

- É que sempre que aparece um ladrão para fazer um assalto em minha loja, sempre pega meus dados primeiro, depois vem pelo correio uma multa, eu pago a multa. Assim, se torna o assalto profissional e oficial! É só isso que estou querendo lhe explicar.

- Mas eu sou um ladrão profissional!

- Prove o que você está dizendo! Sempre que entra um ladrão em minha loja para cometer um assalto, ele sempre apresenta um documento com foto e o nome...

- Mas eu sou um ladrão profissional...- respondeu o larápio, já bastante nervoso.

- Então, meu amigo, eu lhe convido para ser o meu sócio na loja. Você, até agora, foi o único ladrão honesto que conheci na vida porque os outros só me mandam as coisas pelo correio, em forma de autuações, multas etc. Você, ao contrário, teve coragem de entrar aqui armado, pedir o dinheiro, o que eu acho justo! E, além de tudo, um ato de muita coragem!

- E o bandido respondeu: não aceito não, porque aí eu terei que ganhar honestamente e isso eu não quero não! Prefiro pegar o que é meu e ir embora correndo, antes que a polícia chegue.

E a polícia chegou. O comerciante, enquanto distraia o assaltante, acionou o alarme de roubo da loja e a polícia ainda o pegou com a arma na mão.

- Calma autoridade, muita calma nessa hora! Eu estou sendo preso só porque fui honesto e tive coragem de vir pessoalmente cobrar este cidadão honesto e, ao mesmo tempo, expropriado. Pior são os outros que não têm coragem de meter a cara e ficam só fazendo cobranças através de boletos de autuações, multas disso e multa daquilo mais.

Não teve perdão. Mesmo alegando a sua honestidade no roubo, o ladrão fora preso.

Uma vez, frente ao delegado, o ladrão tenta se explicar.

O caso foi o seguinte, autoridade constituída. Eu fui só à loja cobrar o que é meu de direito porque também sou apenas mais um ladrão sem crachá e sem identidade de qualquer órgão público!

- Sei – respondeu o delegado.

E foi em cana assim mesmo, mesmo sendo o mais honesto dos ladrões. Os outros, apenas se disfarçam com documentos de órgãos públicos.

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 08/01/2015
Código do texto: T5095323
Classificação de conteúdo: seguro