JE NE SUIS PAS CHARLIE
O ato de violência praticado pelos terroristas de livrinhos de bolso e Internet, pode ter sinalizado ao ocidente que as ações humanitárias precisam respeitar as diversidades culturais e religiosas. Periga todo o esforço da igreja e dos pacifistas virarem charges nas páginas dessas revistas aparentemente inocentes, mas que manifestam nas entrelinhas um forte odor de racismo e etnocentrismo.
Não é porque na minha rua a maioria ri das minhas gracinhas, que eu vou sair pelas ruas dos outros contando as mesmas gracinhas, ainda mais quando eu sei que na vizinhança tem alguém que odeia esse tipo de coisa e, além de tudo, é violento e não faz cerimônia em apontar uma metralhadora e apertar o gatilho.
Aqui no ocidente e, principalmente, no lado desenvolvido deste ocidente, a cultura predominante é a do capitalismo, do ego e do sucesso. Nesse caldeirão nem todos conseguem afirmar essa máxima e sustentar um eventual fracasso, o que leva os “derrotados” a formarem novos grupos, ou seja, o ocidente está expulsando quem não consegue atingir a fórmula perfeita criada pelo homem branco e rico.
Eu não sou Charlie e acredito que os muçulmanos não fizeram a barbárie na sede da revista na França, isso foi um ato terrorista independente e que não tem nada a ver com a comunidade muçulmana. Os que cometeram o atentado são franceses, os mesmos que foram “expulsos” pelo ocidente, como alguns jovens brasileiros que combatem na Síria.
O mundo editorial perde excelentes criadores, as pessoas estão nas praças manifestando legitimamente seu repúdio e segurando cartazes solidários. Lamento o fato, mas não acho graça do profeta Maomé no corpo de um cachorro, por exemplo. A linha da revista no início era anticlerical e denunciava a ordem burguesa, com o tempo foi intensificando suas ironias e caricaturas para o Islã, tendo sofrido várias ameaças.
Ouvi alguns comentaristas dizendo que aqui no Brasil a charge é um elemento que nem ofende mais, que é usada todos os dias nos jornais, revistas e até nas paredes das grandes cidades e ninguém reclama, até Jesus é ridicularizado am algumas delas. Se nós não respeitamos nossos símbolos e mártires, não nos dá o direito de desrespeitar os dos outros. E, para terminar, a gente não pode cutucar com lápis quem está habituado a responder com bombas.
Ricardo Mezavila