MINA DE ÁGUA
Estou com sede: vou beber água, muita água.
Água é a melhor bebida que existe. Sobrepõe a todas as bebidas, porque a maioria das bebidas são feitas de água, talvez curtida, talvez destilada, etc...
Porém, água que dá uma vontade de beber e sempre com o máximo de prazer é a água saindo da mina. É uma delícia.
Minas de água sempre foram a minha atração. Conheci várias, principalmente as mais simples e as mais sofisticadas. São lindas, são maravilhosas, principalmente quando estou com aquela violenta sede.
Pena que hoje se vive um clima muito quente. Muitas destas minas estão secando e acabando com o sonho de melhor água.
Lembro-me, em minha época de criança, quando ia para roça ajudar meus pais a colher feijão.
Era mês de janeiro. O sol estava muito quente e precisava trabalhar bem rápido, porque ao final da tarde caia chuva. Então, com o corpo todo suado, aquela sede tão grande, dirigia-me à mina de água do sítio de meu pai. Era festa.
Para melhor dizer, esta mina localizava-se perto de um ribeirão. Precisava descer mais ou menos uns dois metros pelo barranco, mas meu pai fez uma escadinha e colocou algumas madeiras para que servissem de proteção para quem descia. Entre cinco moitas de bambu, estava esta joia de água cristalina, que jorrava do barranco e chegava em uma biquinha feita de telha. À volta, encontravam-se algumas toceias de inhame e taioba. O chão de terras pretas, com algumas folhagens, às quais denominei “emberi”, soltando um aroma tão gostoso, que refrescava tudo ao seu redor. Um pequeno banco de madeira, que eu, juntamente, com o Sr. Chico Lobo, fiz, dava ainda mais um tom de liberdade e carinho com a natureza.
Então, nestes acordes naturais como se estivesse no paraíso, pegava uma folha de inhame lavando-a bem lentamente, fazia dela uma improvisação de um copo e enchia-lhe com aquela água cristalina, bem fresquinha, parecendo sair da geladeira. Sentava-me no banquinho, furava a folha de inhame com um buraquinho bem pequeno, colocava a boca naquela folha e sentia a maior felicidade em tomar aquela água, sendo ofertada pela mãe natureza, tão fresquinha, tão clara e abençoada por Deus. Que felicidade...
Hoje, porém, com o passar do tempo, com o trabalho e com a mudança total de vida, fico-me a recordar desta linda mina de água, que o tempo secou, que a natureza não mais quis que ela existisse, que o bambuzal secou, que os “emberis” murcharam e morreram, que o banquinho apodreceu e a pastagem tomou conta. Que tristeza, recordei sentado debaixo de uma árvore, há três meses, quando lá estive. Uma lágrima saiu de cada olho meu, porque, naquele lindo lugar, somente lembranças e felicidades restaram.
Não mais vejo a mina dos sonhos, tudo acabou, mas em meus pensamentos e em minha mente, ela se torna presente e faz-me voltar ao lindo passado, onde tomei água na folha de inhame, sentei ao banco para um dia escrever esta pequena lembrança.
Adeus, mina querida.