O Despertar
Acorda, Elza Maria.
Lá fora faz um frio como há muito não sentíamos... Há casacões e boinas enfeitando as moças nas ruas. Chocolate quente é toda hora pedido nas casas de lanche. O clima propicia encontros amorosos, aconchegantes.
Elza Maria, levanta dessa cama.
Tudo é transitório. Reage. Essas dores passam, as cicatrizes tornam-se tênues. Não penses que é o fim. É uma etapa. Já viveste tantas lutas e talvez mais difíceis. Por que essa intransigência agora? Por que dizes não?
Hoje fiz teus curativos e observei melhoras. A febre se foi... restou esse cansaço, bem sei.
Trouxe um ramo de flores que deixei na sala e um tercinho, lembrança de bisa quando eu ainda era criança. Coloquei na mesinha ao lado da tua cama. Olha e vê como ainda parece novinho.
Há olhos te espreitando. Olhos de amor, que te chamam para a vida!
Priscilla logo chega e com ela tua estréia como avó.
Acorda logo, Elza Maria.
Sem ti estamos tão sós, a vida é tão sem graça... Sequer coloquei o mantô que comprei em Manhattan. Achei um desaforo fazer isso sem estares por perto.
Sairemos juntas, em alto estilo. Coloca aquele comprado em Paris.
Acorda. Antes que venha o sol.