A FOLIA DE REIS

Entre todas as lembranças da minha infância, a Folia de Reis tem lugar privilegiado.

Em minha pequena Ventura, as festas populares ou quaisquer outras, eram muito raras. As celebrações religiosas aconteciam de ano em ano, no mês de Janeiro quando se comemorava o dia de São Sebastião e o dia Santa Padroeira local, Santa Rita. Dezenas de crianças eram batizadas, casamentos eram finalmente realizados e uma grande procissão, com fogos e muita gente das redondezas que também prestigiava o evento.

Apesar de vivermos num lugar onde nada lembrava o Natal, mamãe sempre nos falava sobre o nascimento de Jesus e mantínhamos a tradição de pôr os sapatinhos junto às camas e dormir cedo, na certeza de que na manhã seguinte lá encontraríamos um belo presente deixado pelo Bom Velhinho.

Ano Novo? Ah! Só existia na folhinha pendurada na parede e no Almanaque do Biotônico Fontoura, aquele mesmo, que trazia a história do Jeca Tatu e a foto terrível de uma enorme barata, anunciando a eficácia do Detefon. Mas a Festa de Reis... essa eu nunca esqueci. Um grupo organizado por uma animada senhora, que também era a melhor “parteira” local, percorria uma estrada deserta até o povoado. Trajavam roupas brancas com fitas coloridas, chapéus enfeitados e eram guiados por um senhor que representava “o boi”. Esse era o único personagem que eu não gostava, pois ele usava uma máscara e eu morria de medo. Se a noite era de lua cheia, achava maravilhoso ver aquelas pessoas dançando e cantando com tanta animação. Quando não contavam com a luz da lua, usavam tochas* e o visual era também espetacular. Nessa época, ainda não tínhamos a luz elétrica.

Chegavam em frente à nossa casa e faziam uma saudação pedindo permissão para entrar. Entoavam um canto mais ou menos assim:

Ó de casa, ó de fora

Alegra esse moradô

Que o glorioso santo Reis

Na sua porta chegô

Com a permissão concedida, entravam faziam sua apresentação e eram servidos de alimentos e bebidas. Assim, visitavam as casas e espalhavam alegria naquele lugarejo, onde poucas pessoas sabiam que Baltazar, Melquior e Gaspar foram reis do oriente que guiados pela fé e por uma estrela chegaram à manjedoura que abrigava o menino Jesus, quando Este nos presenteava com o primeiro ensinamento do seu precioso Código de Conduta – a humildade.

*Tocha - Pedaço de bambu, trabalhado no seu interior para servir de depósito para combustível (querosene) e com pavio de tecido ou algodão, usado para iluminar.

Fátima Almeida

Nota:

A Folia de Reis é uma festa religiosa de origem portuguesa, que chegou ao Brasil no século XVIII. Em Portugal, em meados do século XVII, tinha a principal finalidade de divertir o povo, enquanto aqui no Brasil, passou a ter um caráter mais religioso do que de diversão.

No período de 24 de dezembro, véspera de Natal, a 6 de janeiro, Dia de Reis, um grupo de cantadores e instrumentistas percorre a cidade entoando versos relativos à visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. Passam de porta em porta em busca de oferendas, que podem variar de um prato de comida a uma simples xícara de café.

Fonte da pesquisa: http://www.velhosamigos.com.br/datasespeciais/diadereis1.html

(Republicação)

Fátima Almeida
Enviado por Fátima Almeida em 06/01/2015
Código do texto: T5092508
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