A saudade que tenho...

Não tenho saudade daqueles tempos felizes...

Não!

Tenho dos tempos de atribulações...

Sim!

Que passávamos todos os tipos de problemas com alguns momentos de alegrias...

E por mais breve o tempo de alegria sabíamos consumi-los todinho!

Sorvíamos com a alma!

E as atribulações... Eram de todos os tipos! Dificuldades eram tantas...

Mas possuíamos uma força para enfrentá-las e discernimento para contorná-las se necessário...

Éramos três! Eu, meu Pai e minha mãe. Fortes! Existia amor, união e cumplicidade. Adivinhávamos os pensamentos um do outro e um olhar dizia tudo!

Saudades do tempo que os minutos eram valorizados, pois eram conquistados às lágrimas. Vencer um ano e derrotar os problemas é fácil. Difícil e exaustivo e conviver lado a lado com eles durante anos e anos tornando algo já rotulado em teu coração.

Sinto sim saudade da inabalável força que meus pais tinham e eu ali junto tentando ajudá-los.

Uma família de três pessoas... Tão pequena! Tão forte! Doenças, perdas, privações, solidão, perseguições, abandono...

Minha mãe que éramos três... Comentava sobre o Éramos Seis de Maria José Dupré, publicado em 1943. “- Filha o importante é estarmos vivos.”

Ela tinha um medo terrível de perder meu pai (sempre adoentado) e eu.

Então tenho saudade das aflições e problemas... Pois não importava o que estávamos passando o amor entre nós três era tão grande que superava tudo em sorriso!

O tempo passou. Meus pais se foram pra outro plano! Casei tive dois filhos... Éramos quatro... Separei e novamente éramos três! Casei novamente... Que legal somos quatro! Companheiro resolveu também ir para outro plano! Novamente três... Agora somos quatro novamente...

Mas, tenho saudade do início: os três...

Hoje através de luta temos um pouco de conforto que nunca tive em outrora.

Somos quatro... E falta-nos a força, o amor, a união de contornar certos problemas. Existe um individualismo com uma dosagem excessiva de egoísmo.

Hoje tudo tão fácil.

- Fogão a gás, não precisa rachar lenha e ter aquele trabalhão de acender o fogo. O sopra dali e daqui pra iniciar uma chama!

- Água encanada... Abre a torneira e pronto. Banheiros e chuveiros. Não precisa puxar água no poço e tomar banho de balde. E o banheiro? A tal antiga cisterna!

- Energia elétrica... Coloca o dedo no interruptor e adeus escuridão! Facilitando o trabalho da lamparina que tinha que economizar no diesel. Lembro do cheiro que exalavam e das borras que acumulavam no pavio!

- Brinquedos... De todo os tipos que a natureza podia dar... Carrinhos feitos artesanalmente, bonecas de milho com cabelos loiros, brincadeiras de rodas com colegas, esconde-esconde, banhos em córregos e muito mais. Tive bonecas sim... Kátia, Machão e outras... Mas não com a fartura que vejo hoje por aí. Acabou o sonho infantil, agora vídeo games, celulares e brinquedos caríssimos.

- Material escolar... Adorava o cheiro do material novo. Amava meus cadernos, livros e tudo mais. A caixa de lápis de cor. Cuidava com carinho! Tudo muito caro então tinha que valorizar o sacrifício de meus pais. Hoje vejo o desperdício, competição entre os coleguinhas.

- Alimentação... A maioria do próprio quintal, frutas, verduras, ovos, galinhas, porcos, leite tirado na hora! Infinidade! Macarronada, polenta, frango frito era prato de domingo. Agora é praça de alimentação de shopping, restaurantes e comidas com os nomes estrangeiros. Leite contaminado até com soda!

- Televisão cheias de tecnologias, computadores, tablets enfim tudo que nossos olhos podem ver. Imaginem uma carta demorava meses para chegar e encher-nos de emoção. Televisão a nossa primeira era uma colorado 14" verde água um luxo!

Poderia passar o resto da minha vida descrevendo o que sinto falta... Sim... Dos tempos de atribulações e dificuldade com amor eram fardos fáceis de carregar.

Éramos três... Um gigante no amor!