Deusa em escarlate

Ela andava lentamente em direção ao centro do palco. Sentou-se lá e baixou a cabeça, seus cabelos castanhos caindo sobre seu rosto e seu vestido vermelho como sangue a a envolver. A música começou suavemente e, lentamente, ela se levantou.

Ficou lá, em pé, digna de contemplação, uma deusa envolta em carmim. Seus olhos negros faiscavam e hipnotizavam quem os olhasse por muito tempo.

Ela começou, então, a se mover. Levantou os bracinhos finos e girou.

Levantou um perna longa e elegante e pulou.

Segurou nas pontas do longo vestido escarlate e rodopiou, se encurvou toda, como se se escondendo e depois, junto com a música, ela se revelou e correu por todo o palco, transformando ondas sonoras em imagens, fotografias.

Eu assistia a tudo e sentia meu coração a girar e rebolar junto com ela. Naquele momento eu não me pertencia, minha vida estava naquele palco e eu sentia que se ela parasse meu coração pararia também.

Sua dança pareceu durar séculos e por séculos eu realmente poderia assisti-lá. Ela parou de repente, e eu, no entanto, me senti mais vivo que nunca ao ouvir as centenas de palmas dedicadas a ela. Ela sorriu e eu em silêncio a contemplei.