QUALQUER RAMALHETE DE DOR.
Seus olhos são filigranas de fogo
que atracam nas montanhas ao léo sem medo
e assim ficarão até se expirar.
Seis olhos brindam meus Orixás sem pressa,
salvam o templo das garras da expiação
e nunca, nunca mesmo, vão daqui se perder.
Seus olhos correm dos ventos feito saudade
e quando menos esperamos virão à tona para respirar
e depois, lenta e docemente, deitarão ao luar até raiar o dia.
Seus olhos são espessos, fagulhados, apaixonados,
carregam no bojo as canções de ninar da gente
e, por certo, saberão a hora de parar o jogo,
ou virar o jogo. Vai saber.
Esses olhos famintos que sabem tudo que ainda vão nos ensinar,
têm pedreiras avessas esperando a hora de nascer.
Se curvarão aos risos salgados da pressa
e aos fechos enferrujados das águias mancas de qualquer lugar.
Quando os vejo assim, répteis e embriagantes,
esqueço o meu texto e a hora de entrar em cena.
Fico então feito estátua, só esperando a espátula que
vai nos arrancar daqui. Tomara.
Fico só esperando as sereias perfumadas das pragas
mais rogadas e de todos, todos mesmo, serafins.
Nessas horas podemos surrupiar o quer der na telha,
podemos nos agarrar a qualquer fiapo de paixão,
a qualquer ramalhete dor.
Porque os olhos, vitoriosos por fim, estarão com sua missão finda
e seu destino arrematado por todos os homens
e por todos os mares dessa terra.
Vamos nos catar, reunir o que sobrou dessa festa e
nos irmanar por certo.
Talvez nos fecundar por certo, vai saber.
Vai saber...
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