QUALQUER RAMALHETE DE DOR.

Seus olhos são filigranas de fogo

que atracam nas montanhas ao léo sem medo

e assim ficarão até se expirar.

Seis olhos brindam meus Orixás sem pressa,

salvam o templo das garras da expiação

e nunca, nunca mesmo, vão daqui se perder.

Seus olhos correm dos ventos feito saudade

e quando menos esperamos virão à tona para respirar

e depois, lenta e docemente, deitarão ao luar até raiar o dia.

Seus olhos são espessos, fagulhados, apaixonados,

carregam no bojo as canções de ninar da gente

e, por certo, saberão a hora de parar o jogo,

ou virar o jogo. Vai saber.

Esses olhos famintos que sabem tudo que ainda vão nos ensinar,

têm pedreiras avessas esperando a hora de nascer.

Se curvarão aos risos salgados da pressa

e aos fechos enferrujados das águias mancas de qualquer lugar.

Quando os vejo assim, répteis e embriagantes,

esqueço o meu texto e a hora de entrar em cena.

Fico então feito estátua, só esperando a espátula que

vai nos arrancar daqui. Tomara.

Fico só esperando as sereias perfumadas das pragas

mais rogadas e de todos, todos mesmo, serafins.

Nessas horas podemos surrupiar o quer der na telha,

podemos nos agarrar a qualquer fiapo de paixão,

a qualquer ramalhete dor.

Porque os olhos, vitoriosos por fim, estarão com sua missão finda

e seu destino arrematado por todos os homens

e por todos os mares dessa terra.

Vamos nos catar, reunir o que sobrou dessa festa e

nos irmanar por certo.

Talvez nos fecundar por certo, vai saber.

Vai saber...

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 03/01/2015
Reeditado em 03/01/2015
Código do texto: T5089716
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