CORDÃO UMBILICAL NÃO ROMPIDO.

Viviam na rua

por vezes amotinados,

por vezes desparafusados de si mesmos.

Devia ter uns trinta, quem sabe até quarenta,

o tempo não corteja todos com a mesma mão

pra uns é lírico, pra outros, áspero.

Viviam na rua entre cuspes e restos dos restos dos restos

não viviam sós, não mesmo.

Aquele cão era sombra viva dele.

Cordão umbilical nunca foi rompido

talvez sua melhor parte, a mais querida, a mais linda.

Os dois não tinham raiz, nem frutos, nem rebarbas.

Se atracaram certa vez e nunca desligaram esse mar.

Eram alma e alma costuradas com cuidado, com carinho, com amor, com fé.

Assim foram adiante nesse folhetim que chamam de vida.

Tinha vez que chovia, o mundo parecia que estava dizendo adeus.

Tinha vez que o calor chicoteava sem perdão. Como doía, como doía.

Tinha vez que choraram juntos até as lágrimas virarem um rio só.

Eram felizes nesse traçado ríspido, nessa cárie a céu aberto que não dá sossego.

Talvez sejam as duas criaturas mais felizes nesse chão que chamam de Terra.

Porque um tinha o outro sem pedir resgate. Sem ter que pedir desculpa

e nem perdão.

Sem ter que pedir nada.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 03/01/2015
Código do texto: T5089598
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