O cagaço real

1 de Novembro de 1755. A pedido das princesas, a família Real deslocou-se a Santa Maria de Belém com o propósito de gozarem o feriado fora da cidade. Assistiram à missa ao amanhecer e logo de seguida a comitiva real partiu rumo a Belém.

Por volta das 9:30 da manhã, a terra começa a tremer, no que viria a ser o maior terramoto seguido de maremoto, jamais visto. Lisboa ficou arrasada e os edifícios que resistiram foram consumidos pelo fogo que se seguiu. O sismo foi de tal ordem que varreu o Algarve, norte de África, Açores e Madeira. Chegando a locais tão longínquos como a Finlândia. Calcula-se que tenham morrido entre 10.000 e 90.000 pessoas em Lisboa.

O Rei D. José I e a corte que tinham escapado por capricho do destino ao terramoto, ao verem o palácio Real da Ribeira destruído, deram graças por ouvirem o pedido das princesas a um passeio fora do Paço.

O terror vivido por quem presenciou foi indiscritível. O rei na altura, com 41 anos, tremia imaginando-se esmagado. Era rei há pouco mais de cinco anos e o facto do sismo se ter dado num dia santo, pensou que seria castigo divino. Então, pelo sim e pelo não, jurou que jamais habitaria debaixo de algo tão pesado que o esmagasse.

Era na altura seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, um homem lúcido e grande estratega que tomou em mãos o governo e a reconstrução de Lisboa. Poder-se há dizer que atrás de um rei sem grande história há sempre um ministro à altura. Nisso, honra lhe seja feita, Sebastião José de Carvalho e Melo foi um ministro sem igual, pese a parte obscura da sua vingança contra os Távoras, mas isso é outro capítulo.

À desordem do sismo, veio a ordem, superiormente ordenada por aquele que seria mais tarde agraciado com o título de Marquês de Pombal, que perante o caos, alguém lhe pergunta: «E agora?» Ao que responde: «Agora cuidam-se os vivos e enterram-se os mortos!». E de facto, passado um ano já não havia destroços e as novas construções do que viria a ser a baixa pombalina, seguiam em grande ritmo.

Logo a seguir ao terramoto, mandou-se fabricar em madeira e pano, a residência do rei, na zona que menos sofreu com o abalo, o Alto da Ajuda. Aí se construiu a Real Barraca ou Paço de Madeira.

Não se pense que ao falar em barraca se tratasse de um aglomerado de madeira e tecidos, não, muito pelo contrário, era antes uma construção luxuosa, em tapeçarias, mobiliário, porcelanas, pinturas, etc. De tal forma que em nada a diferenciava em luxo e comodidade ao melhor palácio, com a vantagem de ser anti-sísmica, a causa de muitos dos pesadelos do rei.

A obra só se concluiria em 1761 (Seis anos depois), com rés-do-chão e primeiro andar, crescera tanto que era maior em área do que o palácio existente hoje em dia (Palácio da Ajuda).

Ali viveu a corte durante três décadas e ali morreu o rei D. José, com a certeza de não ficar soterrado entre escombros de alvenaria. Mesmo no magnífico Palácio/Convento de Mafra quando de visita, preferiu dormir numa tenda.

A Real Barraca ou Passo de madeira, devido a um descuido de um criado, pegou fogo, ardendo completamente. No rescaldo, foram encontradas peças de alvenaria como suporte do primeiro andar, contrariando assim a vontade régia.

Como nota final resta-me acrescentar: Sabendo nós que o rei teve inúmeros casos amorosos, ainda que discretos (Nâo tão discretos que não deixassem a rainha louca de ciúmes), o mesmo já não se poderá dizer quanto ao romance com a Marquesa de Távora (a única a não ser julgada no processo dos Távoras e talvez a causadora do conflito rei/marquês), como seriam os encontros? Uma vez que o rei tinha fobia em dormir em quartos de pedra e cal? Oh que cabeça a minha!... Os encontros seriam tudo, menos dormir, como é natural.

Lorde
Enviado por Lorde em 02/01/2015
Reeditado em 09/01/2015
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