Terra de Caminha (2002)
Jornal, coisa tão comum, que às vezes nem nos damos conta se já o lemos ou se está por ler. Coisa de todo dia, como o pão nosso. E os jornais de hojendia têm a vantagem de já virem mastigados, via internet. Desde que se pague a assinatura.
É praticamente só engolir aquela catadupa de informações. Ou desinformações, pois entre o fato e sua interpretação pode haver muito chão. Isso se não estiver ela no espaço, pois voa-se mais ainda nesse pedaço.
Não é que sejam coisa do passado o jornal na banca comprado ou no capacho da porta de entrada jogado. Tem lá sua serventia, e a leitura é até mais amena do que na tela do computador, pois dá trabalho às mãos, e permite o ajuste da distância para melhor foco. Ou fofoca.
E o curioso é que não importa o número de jornais que se lê num só dia, a variedade de notícias quase não muda, a não ser algum enfoque localizado, logo deixado de lado.
E nesse contexto, quantas manchetes se lê duma sentada? Dezenas, dúzias, é o mínimo. Mas quantas delas são lembradas, guardadas, por seu impacto, sua apresentação? Pra mim, nenhuma, ou quase.
E curiosamente me vêm à lembrança agora três delas, mas todas elas de décadas atrás. E ficaram ganhando poeira na mente:
- Orós espera por nós
- Jango: da Paraíba à Vila Militar
- Ike confirmou Dulles
E mais que estas três não tem jeito, não consigo me lembrar de nada, apesar das centenas que surgem duma vezada. Mas três tá bom. Nem a Trindade Santíssima vai além.
Tendo visto a governadora-eleita do Rio de Janeiro estampada nas páginas de "O DIA", disfarçada de índia, dou-me conta de que os portugueses que por aqui aportaram há cinco séculos (e per saecula saeculorum) tinham razões de sobra para celebrarem e se extasiarem com a naturalidade e o frescor dos nativos desta Santa Terra de Vera Cruz.
Basta ler a Carta de Caminha. E não é dica minha. E uma das peças mais interessantes de nossa literatura, cuja gênese confunde-se com o nascimento do próprio Brasil.
E quando mencionei acima "disfarçada", não acertei bem na expressão desejada (o que não significa que esteja livre de uma flechada bem mirada. Quis dizer vestida.
Mas aí entra o problema, que não é da língua propriamente. Afinal os índios nestes admiráveis e confortáveis trópicos não precisavam se vestir, tamanha a docilidade do clima.
Sem poder recorrer de pronto a um Aurélio ou um Houaiss, e sem querer me estender por demais, vem-me à cabeça - ainda sem cocar - a expressão adereçada.
E me parece a mais acertada. E que continue esta nossa terra, depois de Benedita, abençoada. E a indiaiada, respeitada. Afinal, somos - muitos de nós - seus hóspedes