Seria o Governo meu "sócio" ?

Romeu Prisco

A ótima Rádio Jovem Pan, de São Paulo, há muito vem desenvolvendo no seu "Jornal da Manhã", com recordes de índices de audiência, uma campanha intitulada "Brasil, país dos impostos". Segundo esta campanha, eu, como brasileiro-contribuinte, tenho que trabalhar cerca de quatro meses por ano, destinando toda a minha renda deste período só para pagar impostos, o que faria do Governo meu "sócio". Destarte, aquela emissora quer saber o que acho desta situação.

Pois bem, inicialmente, acho que o vocábulo "sócio", no caso, não chega a ser exatamente o mais indicado, eis que "sócio", teoricamente, se refere àquele que, além de lucros, também divide prejuízos. Todavia, fica mantido o indigitado termo, para efeito de curioso raciocínio, que pode ser desenvolvido sobre o assunto.

Sim, querida Rádio Jovem Pan, o Governo é meu sócio, porém, um sócio que, como já disse, ademais de participar só dos lucros, é super privilegiado em relação aos outros que tenho. Casado, com dois filhos, entendo que posso considerar igualmente como sócios minha mulher e a minha prole.

Ora, se o Governo fica com a renda de quatro meses do meu trabalho, isto significa que sobra a renda de oito meses, por ano, para ser dividida entre três, o que daria, no caso, pouco mais de dois meses para cada um. Aliás, ainda no caso, acabei não fazendo a conta certa, já que me "descartei". Assim, uma vez me incluindo no cálculo, o resultado seria de precisos dois meses para cada integrante dessa "sociedade sui generis".

Isso tudo para um "sócio comportado" como eu. O que seria, então, se eu tivesse mais filhos ? O que seria, então, se a minha "sociedade" tivesse uma "filial", com seu respectivo "sociozinho" ? Teria que fazer das tripas coração, para arcar com os "lucros" de todos, ou, quem sabe, sair à cata de um amigo "generoso", que desempenhasse financeiramente as minhas obrigações "societárias".

No frigir dos ovos, resta uma certeza: nós, brasileiros-contribuintes, somos os melhores "sócios" do mundo. Pena que participamos de uma empresa que só opera no vermelho, graças, principalmente, aos seus outros inúmeros "sócios ocultos".

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