Ele queria ser papa
1. Morre um papa - ou renuncia -, e logo a comunidade católica mundial se mobiliza para indicar o seu sucessor. Nós, aqui no Brasil, às vezes com excessivo e trovejante otimismo entramos nessa onda. Acho natural: qual o país que não quer ver o trono petrino ocupado por um de seus filhos?
2. E os palpites partem de todos os recantos do Planeta. Ouve-se: "desta vez, o novo papa será" um francês ou um alemão; um iraquiano ou um iraniano; um venezuelano ou um guatemalteco; um japonês ou um italiano; e, claro, por que não um brasileiro?
3. Mas nós sabemos de sobra que são os velhinhos da Capela Sistina, e somente eles, que escolhem os pontífices. E, segundo dizem, na hora da escolha, eles são iluminados pelo Divino Espírito Santo.
No meu entender, sendo essa tese vitoriosa, a Pomba Sagrada passa a ser um poderoso cabo eleitoral dessa ou daquela facção cardinalícia.
4. O certo é que não é fácil dizer quem será o papa quando o Vaticano, por isso ou aquilo, é levado a escolher os sucessores de Simão Pedro.
5. A decisão dos encanecidos purpurados, reunidos em um Conclave rigorosamente indevassável, pode surpreender, com a escolha de um cardeal pouco conhecido.
Foi o caso do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco - que poderia ser chamado de Papa Francisco de Assis.
6. Poucos sabem, porém, que um baiano, indiferente às exigências e às regras rígidas da Santa Sé, andou querendo, "sonhando", ser papa.
É o que dizem as pesquisas realizadas pelos historiadores Maria Lêda de Oliveira e Odir Jacques Dias, ela professora da USP e ele arquivista geral da Ordem dos Servos de Maria, em Roma. Esta notícia está nos jornais brasileiros de circulação nacional.
7. Antônio Dias Quaresma, um soteropolitano, ou seja, nascido em Salvador, viveu entre os séculos XVII e XVIII.
De acordo com os pesquisadores citados, "ele cogitou ocupar o lugar de Sumo Pontífice e empreender profundas reformas." Peremptório, proclamava: "Hei de ser papa!" Sonhava em ser o sucessor de Clemente XII que morreu em 1740.
8. Aos 18 anos, Dias deixou a casa paterna e foi morar em Lisboa. Na capital lusitana, "caiu numa vida de vícios pecaminosos."
Voltou ao Brasil, em 1702. Esteve entre a Bahia e o Rio de Janeiro. Mas foi em Minas Gerais que Antônio Dias Quaresma viveu amasiado.
Dessa relação, nasceram oito filhos; e outros tantos, nascidos de seus relacionamentos com suas escravas e parceiras.
9. De repente, "voltou a ceder aos apelos do espírito." E em abril de 1730, "teve início a sua entrega completa a Deus". Segundo seus biógrafos, "em 1733, ingressou na Ordem dos Servos de Maria, tornando-se sacerdote e adotando o nome de frei Uguccione Maria Antônio".
10. Por que contei essa história. Primeiro porque ela envolve um baiano de Salvador, cidade onde moro há mais de meio século.
Segundo porque não me pareceu tratar-se de um personagem vulgar. Tanto que a sua esquisita história, "contada numa detalhada autobiografia recentemente descoberta", permanece nos arquivos do Vaticano.
11. Fica a sugestão para quem quiser estudar a vida de Antonio Dias Quaresma, esse estranho baiano.
1. Morre um papa - ou renuncia -, e logo a comunidade católica mundial se mobiliza para indicar o seu sucessor. Nós, aqui no Brasil, às vezes com excessivo e trovejante otimismo entramos nessa onda. Acho natural: qual o país que não quer ver o trono petrino ocupado por um de seus filhos?
2. E os palpites partem de todos os recantos do Planeta. Ouve-se: "desta vez, o novo papa será" um francês ou um alemão; um iraquiano ou um iraniano; um venezuelano ou um guatemalteco; um japonês ou um italiano; e, claro, por que não um brasileiro?
3. Mas nós sabemos de sobra que são os velhinhos da Capela Sistina, e somente eles, que escolhem os pontífices. E, segundo dizem, na hora da escolha, eles são iluminados pelo Divino Espírito Santo.
No meu entender, sendo essa tese vitoriosa, a Pomba Sagrada passa a ser um poderoso cabo eleitoral dessa ou daquela facção cardinalícia.
4. O certo é que não é fácil dizer quem será o papa quando o Vaticano, por isso ou aquilo, é levado a escolher os sucessores de Simão Pedro.
5. A decisão dos encanecidos purpurados, reunidos em um Conclave rigorosamente indevassável, pode surpreender, com a escolha de um cardeal pouco conhecido.
Foi o caso do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco - que poderia ser chamado de Papa Francisco de Assis.
6. Poucos sabem, porém, que um baiano, indiferente às exigências e às regras rígidas da Santa Sé, andou querendo, "sonhando", ser papa.
É o que dizem as pesquisas realizadas pelos historiadores Maria Lêda de Oliveira e Odir Jacques Dias, ela professora da USP e ele arquivista geral da Ordem dos Servos de Maria, em Roma. Esta notícia está nos jornais brasileiros de circulação nacional.
7. Antônio Dias Quaresma, um soteropolitano, ou seja, nascido em Salvador, viveu entre os séculos XVII e XVIII.
De acordo com os pesquisadores citados, "ele cogitou ocupar o lugar de Sumo Pontífice e empreender profundas reformas." Peremptório, proclamava: "Hei de ser papa!" Sonhava em ser o sucessor de Clemente XII que morreu em 1740.
8. Aos 18 anos, Dias deixou a casa paterna e foi morar em Lisboa. Na capital lusitana, "caiu numa vida de vícios pecaminosos."
Voltou ao Brasil, em 1702. Esteve entre a Bahia e o Rio de Janeiro. Mas foi em Minas Gerais que Antônio Dias Quaresma viveu amasiado.
Dessa relação, nasceram oito filhos; e outros tantos, nascidos de seus relacionamentos com suas escravas e parceiras.
9. De repente, "voltou a ceder aos apelos do espírito." E em abril de 1730, "teve início a sua entrega completa a Deus". Segundo seus biógrafos, "em 1733, ingressou na Ordem dos Servos de Maria, tornando-se sacerdote e adotando o nome de frei Uguccione Maria Antônio".
10. Por que contei essa história. Primeiro porque ela envolve um baiano de Salvador, cidade onde moro há mais de meio século.
Segundo porque não me pareceu tratar-se de um personagem vulgar. Tanto que a sua esquisita história, "contada numa detalhada autobiografia recentemente descoberta", permanece nos arquivos do Vaticano.
11. Fica a sugestão para quem quiser estudar a vida de Antonio Dias Quaresma, esse estranho baiano.