RECAÍDA
Às vezes, sem querer, a gente entra numa fria. Outro dia, expurgando velharias, deparei com fitas bem antigas. Por pura curiosidade, comecei a ouvir justo as músicas “De Cigarro em Cigarro”, de Nora Ney...olhando a fumaça no ar se perder...e “Fumando Espero”, o tango inesquecível de Dalva de Oliveira...enquanto eu fumo, depressa a vida passa...
Estava um tanto com deprê e por isso, talvez, deu-me uma vontade imensa de fumar.
Para matricular lá na Faculdade de Penápolis, isso em 1970, exigia-se abreugrafia. O técnico do Hospital de Clínicas de Promissão pregou-me um susto daqueles. Encaminhou-me para um especialista que depois da radiografia, diagnosticou: Seu pulmão está tudo escuro, vê? Pare de fumar. Mas deu-me o atestado.
Então, faz quarenta anos que não fumava. Já tinha fumado de tudo. Cigarros comuns, cigarro de palha, cigarrilha, até charuto. Cigarro da palha tinha um quê de sedução. De ritual. Era ficar picando o fumo, demorado E acendê-lo com a binga. E podia carregar um canivetão, dentro da bainha, na cinta. É para picar fumo, justificava Atualmente é cafonice, assim como usar polchete. E é processo na certa, por contravenção. Uma única vez fumei um charuto cubano.
Como nunca tinha fumado cachimbo, optei por este para a volta ao vício. Procurei até encontrar uma tabacaria. Casa em extinção, com tanta propaganda contra fumantes.. O meu cardiologista, quando soube, por causa do forte cheiro passou aquele sermão. Prometi não continuar. No próximo ano eu paro de vez, juro. Mesmo porque o cachimbo fica mais tempo apagado que aceso.
É que lembrei daquele sambinha do Martinho da Vila, com adaptação: eu fumo sim/ estou vivendo/ tem gente que não fuma/ está morrendo. O escritor Robert Mallet em resposta a uma pergunta do que mais gostou da vida? Respondeu: Escrever, e sentar numa poltrona para fumar...