O MENINO SOLITÁRIO

O MENINO SOLITÁRIO

O pequerrucho menino de rua não tinha família. Estava faminto e suas vestes, eram trapos e seus calçados eram os próprios pés. Sua fisionomia raquítica, seu semblante de criança sofredora, assustada denotavam que seu coração clamava por aconchego e amor. Tinha lá seus 10 aninhos, e já começava amargar um sofrimento provocado pela solidão e ausência de companhia. Um braço amigo para dar-lhe guarida, matar a fome que corroia seu aparelho digestório. Lágrimas desciam de seus olhos. Vendo toda aquela cena dantesca, bati no meu bolso e tive a sorte de encontrar cinco reais. Perguntei-lhe num tom só! Como é seu nome menino solitário? Com a voz meio embargada, relutou em responder: “Meu nome é João Evangelista”. “Não tenho família, companhia e liberdade para fazer o que todas as crianças da minha idade fazem.” Num momento de inspiração pedi calma, que ficasse sentado, enquanto eu retornava. Encontrei numa dessas quitandas mal acabadas, o alimento para saciar a fome de aquele ser despreparado, para enfrentar a vida na solidão. Uma boa refeição era o mínimo que eu poderia fazer. Mãos à obra. Levei a quentinha à presença da infeliz criança, que com as próprias mãos encaçapou toda refeição. Seu semblante mudou e um melancólico sorriso se estampou em seu rosto. Ele disse muito obrigado, mas estou com sede. Exclamou! Rapidamente voltei e providenciei um suculento copo dágua, saciando-lhe a sede também. Pensei cá com meus botões, qual a atitude que deveria tomar, para não deixar no desamparo um brasileirinho esquecido das autoridades constituídas do Brasil.

Tinha só 10 anos, seu rosto de criança almejava a esperança de dias melhores. O tempo passava e conversávamos sobre assuntos variados, de repente notei que seus olhos ficaram avermelhados, quando em seu pulso toquei, notei que ardia em febre, tremia de frio. Passei as mãos à cabeça e pensei: o que vou fazer? Andamos um pouco, visualizei um hospital, de imediato pedi pelo amor de Deus um atendimento de fato. O médico em sua nobreza disse: “a criança vai ter que ficar”. Suspeitamos de pneumonia! Eu, meio atordoado, pusilânime às vezes e com receio de contar ao médico como encontrei a criança. A atendente me chamou: “O senhor têm que preencher uma ficha para acompanhar o receituário médico. Decisão tomada. Preenchi todos os dados como se inocente criança fosse meu filho. Procurei por uma dessas religiosas que está de plantão nos hospitais, para a verdade repassar e não ter que abandonar uma miniatura de ser humano, no abandono”. Seria covardia de minha parte. Tentei alvitrar e me tornar Cirineico e usar o deotropismo que fruía de meu coração. Meus olhos de melancólicos se fizeram incandescente entre várias incursões teve uma idéia insigne. Um luzeiro surgiu a minha frente, uma senhora e uma moçoila caridosas, lucigênitas, indagaram-me com altivez! Não tive outra solução, abri meu coração e com os olhos marejados todo acontecimento foi narrado.

Um paracleto divino que há tempo procurava uma criança desamparada e tratar-lhe muito bem, pois o único filho dessa senhora tinha partido para o mundo espiritual. Fiquei um pouco aliviado. Levei a senhora à presença da criança e a emoção foi total. Restava-me resolver judicialmente a situação do pequeno ser. Como Deus é contributivo e sem que eu usasse expediente espúrio, descobri que o esposo da senhora era Juiz de direito. Acertamos tudo. A desamparada criança encontrou um novo lar, foi assediada de amor e carinho consubstanciado, mas um pedido ela fez, eu não podia negar. Não esquecesse de lhe visitar e um presente levar. Fitei por alguns momentos, não podia causar uma malversação. Perguntei meio estatizado, o que queres João Evangelista? Quero te abraçar, te beijar rogar a Deus por tua felicidade, visto que fostes mais do que um pai na hora precisa. Esse pai que não tive durante 10 anos de minha existência. Agora tenho um lar, decente, confortável e uma família sem desconexos, que me querem bem. Do submundo sai para o paraíso terrestre caminhei, um ser de bom coração providenciou tudo para que eu fosse feliz. Venha sempre me ver, amigo querido, minha nova mãe e meu excelso pai estão felizes. Eu pequenino pungente agora sou gente, quero ser feliz. Jamais magoarei quem me abrigou e fez meu coração renovar e conhecer a felicidade. Obrigado meu Deus e meu Jesus querido jamais esquecerei a sua lei e seus ensinamentos, principalmente aquele que aprendi e nunca esqueci: “Deixai vir a mim as crianças, elas herdarão o reino do Céu”.

Antônio Paiva Rodrigues é Estudante de Jornalismo da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza. Membro da ACI / Acadêmico da Alomerce.

Paivinhajornalista
Enviado por Paivinhajornalista em 31/05/2007
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