O  chinês ou o  amigo "urso"
 
 
 
 
                       O título da crônica é forte, mas quero mostrar aos amigos e amigas um lado da minha personalidade que coincide com o perfil do chinês antigo, ou pelo menos do chinês antes da chegada de Mao (período em que milhares de bons chineses foram mortos pelo fanatismo ideológico). Pois bem, amigos, a boa leitura é um manancial enorme de aprendizado.  Relendo, nestes feriados,  vários livros e autobiografias  de Bertrand Russell, fiquei sabendo que os antigos chineses, educados na filosofia de Confúcio, tinham um padrão moral excelente. E era fácil cumprir, na prática, os ensinamentos confucionistas, porque os preceitos morais eram simples e não exigiam uma moral elevadíssima, comparando com o padrão ocidental que nós temos. Esperava-se do chinês apenas isso: respeito com os pais, generosidade com os filhos, caridoso com os parentes pobres e educado ou cortês com todo mundo. E o que mais me assombrou foi saber que não gostavam de disputas (como nós) e procuravam resolver seus litígios sempre através de negociação feito por terceiros, para, vejam só, não envergonhar os contendores.  E foi aí que me vi como um autêntico chinês. Quando alguém pratica um mal feito, eu costumo ficar mais envergonhado do que o infrator, como se eu é  que tivesse cometido a falta. Achava que eu tinha um problema psicológico, mas vejo agora e sinto que isso é um temperamento que devo conservar. Pra completar, amigos, eles não têm a noção do pecado que nós temos. A ideia do pecado original eles não aceitam e ficariam indignados, como disse o Russell, se lhes dissessem que todos nós nascemos ruins e que merecemos o castigo eterno.  Confúcio afirmava que nascemos bons e nos tornamos maus, por força do mau exemplo. Pelo que vejo o filósofo francês Rousseau copiou esta visão do velho Confúcio. Haveria indignação total se insinuassem aos chineses que seus pais ou avós poderiam estar ardendo no inferno, tal o respeito que eles têm pelos ancestrais. O mundo seria bem melhor com essas características do chinês antigo. Receio que o frio mundo moderno não permita mais essas sutilezas.
                  Tenho prazer em fazer ligações da minha vida (embora use também a imaginação) com o que leio, achando interessante passar adiante. Por isso,  passo a falar do amigo traidor, como sugere o título da crônica,  e como eu agi para conciliar tal problema.  Falo de longínquo passado, na minha mocidade.                      As traições eram frequentes e praticamente feitas quase na minha frente. Punhaladas pelas costas de vários tipos.  É certo que demorei a enxergar.  No princípio, briguei, mas acabei voltando ao meu estilo chinês. A bem da verdade, quando apontamos um defeito de alguém deveríamos também apontar as qualidades. E essa pessoa tinha qualidades que apreciava, lamentando muito que ela claudicasse no quesito confiança. Muito bem,  passei a elogiá-lo, socorri o amigo em seus afazeres profissionais, quando precisou, mas fui me afastando com toda delicadeza, para não sofrer prejuízos.  Posso dizer que foi com todo carinho que deixei o amigo. A única diferença minha para com o chinês original é que ainda não aprendi a  dar aquele sorriso enigmático que ele tem.  Evitei que ele se envergonhasse, mas  desliguei-me sem sorriso.


Nota:  Um Feliz Ano Novo para todos e até meados de janeiro. Saio de férias.
Gdantas
Enviado por Gdantas em 25/12/2014
Reeditado em 25/12/2014
Código do texto: T5080784
Classificação de conteúdo: seguro