Meus diários de adolescência
Poucas pessoas até hoje acreditaram que, em algum momento da minha vida, compus o meu cotidiano em diários. Parece que, por conta do diário ser usado em larga escala pelas mulheres, eu seria um corpo estranho ao utilizá-lo, entre meus 15 e 19 ou 20 anos.
Não conseguia ter a disciplina ou disposição necessária para escrever todos os dias, mas posso assegurá-lo, caro leitor, que escrevia com muita constância.
Dentre os fatos cotidianos (de onde aprendi a compôr crônicas e poemas), comecei a desenvolver a minha escrita, o meu estilo e a minha capacidade de expressão. Lá eu colocava as minhas ânsias; anseios, frustrações e o desejo de ser amado e correspondido, da forma como era e me apresentava.
Pra mim, foi um dos períodos mais ricos da minha vida. Nos momentos que não conseguia falar com Deus, me expressava na agenda. Ela era a minha companheira de bordo, seja no meu quarto, nas idas ao colégio ou nas visitas a casa dos meus parentes.
Nunca a dispensei em momento algum.
Hoje, quando vejo as contradições da vida e a forma como sou absorvido por ela, além de fatos notórios ou peculiares, tenho vontade de escrever. Entretanto não tenho, em minha volta, uma agenda para compor o texto.
Como certo consolo, o espaço virtual tem, de certa forma, suprido essa carência, ao enviar para o correio eletrônico, as mensagens e percepções pessoais.
Um dia, se qualquer historiador estiver disposto a construir uma biografia e fazer uma análise em torno do meu perfil, encontrará um arsenal de documentos primários em manuscritos e mensagens virtuais. Creio eu que eles constituem, pelo menos, uns 70 a 80% da minha vida. Sem a visão positivista da história, creio que as fontes, de forma considerável, guiarão criticamente o historiador para conhecer o mundo à volta e as minhas percepções sobre os eventos históricos e os momentos ímpares que marcaram minha vida.
Não consigo mais discorrer sobre o assunto, sob pena de não perder frente à nostalgia e à lembrança que me persegue e, por hora, me tenta. Embora cada fase seja uma, creio que os meus diários, ainda esparsos, ainda existem. Não em um diário convencional, mas nas minhas produções textuais no meu correio eletrônico, no Recanto das Letras e em outros espaços virtuais e reais. Talvez isso possa servir como álibi para a minha falta de diários.